quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

U4 - Renovação da espiritualidade e da religiosidade

O movimento da Reforma iniciou-se em 1517 com o protesto de Martinho Lutero contra a venda das indulgências pela Igreja católica. As divisões na Igreja começaram na Idade Média com o Cisma do Ocidente.
Também no século XV, Erasmo e os humanistas acentuam a pureza original da religião rejeitando os excessos de poder e a complexidade do culto e da hierarquia. As críticas à Igreja continuaram nos séculos XIV e XV com críticas fortes contra o excessivo luxo e ostentação além da vida pouco cristã dos príncipes da Igreja. Em 1517 o papa Leão X mandou pregar por toda a Europa o perdão dos pecados a quem contribuisse com dinheiro ou riquezas para a construção da Basílica de S. Pedro Em Roma. Lutero protestou contra a venda das indulgências afixando na porta da catedral de Wittemberg as 95 Teses contra as Indulgências, documento que protestava contra esta medida papal acusada de puro mercantilismo religioso. o papa excomungou Lutero e mandou persegui-lo obrigando-o a pedir protecção aos príncipes da Alemanha que viram neste conflito a forma de se livrarem da obrigação de pagamentos de tributos ao papado retendo para seu proveito as receitas das dizimas na Alemanha e das propriedades da Igreja nessa região europeia. O culto na Alemanha e noutras regiões do norte da Europa passou a ser feito segundo as regras de Lutero e da Igreja Luterana.
 A divisão provocada por Lutero não teria sido possível sem o concurso de um espírito fortemente crítico relativamente à Igreja, que existia nas regiões norte europeias. No norte da Europa ao contrário do sul a influência da Igreja era tradicionalmente menos forte. Foi a região menos latinizada e cristianizada no tempo romano e foi a região menos romanizada. a sua religiosidade era mais austera a vida urbana era mais intensa e o comércio bastante desenvolvido. O culto cristão romano, com forte influência pagã e de imagens era menos forte e mais espiritualizado. As zonas onde a reforma teve mais dificuldade em implantar-se foram aquelas onde a influência romana fora mais forte.
 A reforma separou duas zonas europeias distintas. No norte, o pensamento mais abstracto e crítico, a livre discussão das ideias e a valorização individual levou à revolução científica e à revolução industrial. A sul o pensamento menos autónomo e crítico levou ao fanatismo religioso e às perseguições lideradas pela Inquisição. Contra o Luteranismo, Calvinismo e Anglicanismo, o Concílio de Trento reuniu-se entre 1545 e 1563. A Companhia de Jesus, o Index e a Inquisição tornaram-se instrumentos dessa luta anti protestante. O norte da Europa acentua a sua vocação livre, protestante e urbana enquanto o sul da Europa continua sendo fanaticamente católico, tradicional e ignorante. Decidiu-se: reafirmar o culto, a liturgia, a hierarquia e os dogmas sobre os quais os leigos não poderiam pronunciar-se. criar os seminários para formar os sacerdotes e o catecismo como guião elementar da moral e fé cristã. Em Portugal a Companhia de Jesus terá um papel importante na perseguição aos eruditos e humanistas. Os sábios portugueses são perseguidos pela Inquisição introduzida em 1536 pelo rei D. João III, principalmente os que contactaram com Erasmo ou estiveram nas universidades do norte protestante. Terá também um papel importante na missionação dos territórios portugueses do oriente da América. As oras cientificas são proibidas nas listas do Index. Os judeus são também perseguidos e refugiam-se nos países do norte para onde levam os cabedais e onde desenvolvem a sua actividade mercantil

A posição social de um cavaleiro no século XIII

“Não é bastante para a grande honra que pertence ao cavaleiro a sua escolha, o cavalo, as armas e o senhorio, mas é mister que tenha escudeiro e troteiro que o sirvam e cuidem dos seus cavalos; e que as gentes lavrem, cavem e arranquem a maleza da terra, para que dê frutos de que vivam o cavaleiro e os seus brutos; e que ele ande a cavalo, trate-se como senhor e viva comodamente daquelas coisas em que os seus homens passam trabalhos e incomodidades. (…) Correr em cavalo bem guarnecido, jogar a lança nas linças, andar com armas, [entrar em] torneios, fazer tablas redondas, esgrimir, caçar cervos, ursos, javalis e leões e outros exercícios semelhantes, pertence ao ofício de cavaleiro, pois com tudo isto se acostuma a feitos de armas e a manter a Ordem de Cavalaria. Portanto, desprezar o costume e uso por meio dos quais o cavaleiro se dispõe para o uso do seu ofício é menosprezar a Ordem de Cavalaria.”

 Ramon Llull, “Libro de la Orden de Caballeria”, in Fernanda Espinosa, Antologia de Textos Históricos Medievais