Acontecimento- Conjuntura- Estrutura |
A estrutura pode ser tida pois como um sistema.
Nas Ciências Históricas, a estrutura representa assim um complexo temporal e espacial definido por vários séculos ou por durações cronológicas extensas, composta de conjunturas variáveis, com pontos de contacto entre si que fazem com que a estrutura seja um todo, mesmo que formado por contrastes ou continuidades.
A estrutura pode ser ainda uma dimensão de análise do tempo histórico quando perspetivada na longa duração, por oposição ao historicismo descritivo e factual, típico do Positivismo e da história factual anterior à Nova História.
Graças à importação do conceito de estrutura para o conhecimento histórico, pôde-se projetar no tempo histórico da Humanidade várias estruturas espácio-temporais, como, por exemplo, a época dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa, a Baixa Idade Média ou o terrível século XIV, um período longo marcado por uma sucessão uniforme e cadenciada de fomes, pestes e guerras, que fazem com que essa centúria seja, em diversos países, um período estruturalmente considerado de recessão demográfica, pobreza, conflitualidade, enfim, época de flagelos e crises.
Designando uma realidade permanente no tempo longo, foi criada pelo historiador francês Fernand Braudel e deriva do estruturalismo, sendo igualmente aplicada e preconizada pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss.
A estrutura pressupõe um modelo abstrato no qual se interligam os diversos elementos que o compõem. O dito modelo, que resulta da análise da realidade percecionada, contém leis que gerem a relação entre os diferentes elementos.
Estas leis, que são, por conseguinte, estruturais, ditam a transformação dos elementos. Aplicando o conceito à realidade, Lévi-Strauss considerou a existência de dois tipos de estrutura: a dos mitos, aplicada à parte Norte e à Sul do continente americano, e a das relações de parentesco, podendo estas ser tanto elementares como complexas.
O autor de Les structures élémentaires de la parenté (1949) sublinha nesta obra como se torna vaga a dualidade da cultura e da natureza quando aplicada ao parentesco, apesar de ser basilar, por constituir uma instituição cultural.
Salienta ainda o facto de a sociedade humana se demarcar da animal pela sistemática e total condenação do incesto.
Por outro lado, pode considerar-se a estrutura das relações sociais, ditada por teóricos funcionalistas como M. Fortes, É. Durkheim e A. R. Radcliffe-Brown.
Denominada, portanto, esta teoria de estruturo-funcionalista, consta das conexões que se estabelecem entre os elementos e organismos que formam cada sociedade, sejam estes individuais, religiosos, políticos, económicos, de parentesco e outros. Radcliffe-Brown elaborou entre os anos 20 e 50 do século XX uma série de artigos relativos à estrutura e à função na sociedade primitiva, onde discorre sobre o direito das sociedades não industriais, o totemismo, as religiões e os sistemas de parentesco, que analisou segundo a ótica acima referida. No que se relaciona com a estrutura, este autor introduziu um conceito de simultaneidade sincrónica e diacrónica, particularmente na genealogia do indivíduo, que funciona como elo geracional e de parentesco. Em relação à função ou funcionalismo, salienta Radcliffe-Brown que a "holística" (termo que deriva da língua grega e designa uma visão de conjunto ou de todo do Homem) da sociedade humana é condicionada pela história da mesma sociedade.
Delineados alguns aspetos estudados por dois dos mais relevantes teóricos do século XX, resta sublinhar o carácter quase inalterável da estrutura, que se insere, portanto, no tempo longo da História e engloba desde fenómenos mentais, psicológicos, sociais e económicos a ecológicos, técnicos, geográficos, políticos e culturais.
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