BIOGRAFIA
Desidério Erasmo nasceu em Rotterdão no dia 28 de outubro de 1467 e faleceu na Basiléia em 11 de junho de 1536. É um pensador humanista de grande importância, ligado ainda à teologia. Filho de Gerardius de Präel, que morreu quando Erasmo tinha treze anos, em 1480. Era chamado de " filho de Geraldo", pois era comum naquela época os filhos serem conhecidos pelos nomes dos pais. Começou seus estudos em Guda, e pouco depois passou para a catedral, como pajém. Foi então para a célebre escola de Alexandre Hegius, em Deventer, até que morreu sua mãe. Então parou de estudar, por falta de recursos.
A pedido de seus parentes e tutores, foi para o seminário de Bois-de-Due. Devido seu caráter introspectivo e por ser um estudioso aplicado, julgavam-no apto para seguir a carreira monástica e tornar-se padre. Porém, nos três anos em que Erasmo passou como seminarista, não ocupou-se muito com a filosofia e com a religião, preferindo a música e a pintura.
Após este período, voltou para Guda, onde viveu com seus tutores. Lá, com 19 anos, decidiu seguir a vida do claustro, junto com seu amigo Cornelio Verdenius, antigo companheiro em Deventer. Foi então para o convento de Stéin o Emmaus, nos arredores de Guda. Após mais um tempo no convento, decidiu definitivamente que não havia nascido para monge. Mas para não desagradar seus parentes, fez os votos e continuou estudando. Enquanto seus companheiros de monastério se dedicavam aos cultos religiosos, Erasmo ia sozinho para a biblioteca e lá passava horas estudando, fazendo anotações. Isto levou a formação de uma cultura superior, que mais tarde tornou-se a causa de seu êxito intelectual e da fama de sua erudição. Se entusiasmou com as obras do humanista Lorenzo Valla, e em companhia de seu amigo Guilherme Hermann – que tornou-se poeta lírico – , aprendeu a língua latina. A língua latina era a língua escrita por execelência, além de ser básica na Igreja católica, que ainda dominava em grande parte a cultura da Idade Média. O conhecimento do Latim possibitou a Erasmo fazer-se entender em outros países.
Erasmo, orfão de pais desde cedo, obrigado a viver a vida regrada dos monastérios, já exercia no começo de sua juventude a agudez satírica que o consagraria mais tarde em seu Elogio da Loucura. Por essa época, divertia-se com pequenos ensaios, como o “De Contemptu Mundi”, que ironizava a vida dos monges, relevando o aspecto mundano destes.
Felizmente, não precisou continuar muito mais tempo nesta vida, pois graças ao seu bom latim, foi nomeado por seus superiores para acompanhar até Roma Enrique de Bergen, bispo de Cambrai, a quem o papa havia concedido o título de cardeal. A viagem durou bastante e o cardeal foi seu protetor durante este tempo. Para acompanhá-lo, Erasmo foi ordenado presbítero. É uma constante da vida de Erasmo a ajuda e o suporte de amigos, mecenas e pessoas poderosas que se interessavam pela cultura.
Em 1486, Erasmo foi para Paris terminar seus estudos. Se instalou no colégio Montaigú, onde sentia repugnância pelos ensinamentos teológicos e pela comida, que era basicamente a base de peixe, alimento que lhe fazia mal. Aguentou durante três meses esta situação, até que lhe autorizaram a voltar para Cambrai, onde residiu por mais um ano. Lá se curou das enfermidades que lhe ocorreram durante sua estada na França.
Ao cabo deste ano, voltou a Paris, mas sem a proteção de Enrique de Bergen, que havia falecido, foi obrigado a se iniciar como professor particular para sobreviver. Conseguiu alguns discípulos ricos, que lhe davam excelente pagamento. Entre seus discípulos estava Guilherme Mountjoy, um inglês, que gostava muito de Erasmo e lhe acolheu em sua casa, com o consentimento de seus pais, estes muito estimaram a presença de um professor de maneiras corretas e grande cultura.
Foi então que uma grande peste assolou Paris, e centenas de habitantes começram a morrer diariamente. Erasmo fugiu para o sul da França, onde travou amizade com a marquesa Ana de Vera, que também ficou encantada com Erasmo e passou a lhe fornecer uma pensão de cem florins.
Pouco tempo depois Erasmo foi para Orleans, onde permaneceu três meses na casa do catedrático Jaime Tudor, que havia conhecido em Cambrai, onde Tudor lecionava direito canônico.
Em 1497, foi com seu discípulo Guilherme Mountjoy para Londres, onde permaneceu até 1500. Lá visitou a Universidade de Cambridge e Oxford, onde travou amizade com os mais insígnes humanistas da época, como Thomas More – de quem tornou-se grande amigo – , Juan Coleti, Guilhermo Crocyn e Latimer.
Thomas More o apresentou ao rei Henrique VII, que o recebeu com muita estima, pois Erasmo sempre se fazia simpático e amigável com os poderosos.
Na Universidade de Oxford, terminou seus estudos em grego, um idioma que só os eruditos conheciam na época. Este conhecimento serviu de ponte para sua relação com o douto filósofo Juan Colet, que lhe deu a conhecer obras importantíssimas, como a primeira versão da Bíblia. O conhecimento deste manuscrito foi decisivo para Erasmo se apartar da filosofia escolástica.
Volta então à França, passando pelas cidades de Paris, Orleans, e Lovaina, analisando as obras curiosas das bibliotecas locais.
Vivendo quase que exclusivamente da escrita, como acontecia com a maior parte dos humanistas. Começou a publicar vários livros e tratados, que chamaram a atenção dos estudiosos e lhe conferiram uma grande autoridade intelectual. Os poderosos e magnatas passaram a solicitar a companhia de tal estudioso, tão versado nas ciências filológicas e literárias. Em 1504, o encarregaram de recepcionar o novo governante, o arquiduque Felipe, recebendo por este trabalho 50 moedas de ouro, o que solucionou seu problema financeiro por dois anos. Pouco tempo depois, na Louvania, travou relação com um grupo de teólogos, entre os quais o futuro Alexandre VI e o fransciscano P. Vitrarius, que se tornou seu amigo íntimo e o ajudou economicamente depois.
Graças a um mecenas de Lovaina, editou as obras de um de seus autores prediletos, o sábio Lorenzo Valla. Se dedicou às obras sobre o Novo Testamento deste sábio, e escreveu para elass um prefácio considerado interessantíssimo, que foi muito comentado em todas as partes.
Um dos grandes desejos de sua vida era conhecer bem a Itália, mas as suas ocupações e problemas financeiros não permitiam a realização de tal projeto.
Seus numerosos amigos de Londres lhe facilitaram uma cátedra em Cambridge, onde lecionava seu antigo discípulo Guilhermo, que sempre o estimou.
Em 1506 Erasmo finalmente realizou seu desejo de viajar para a Itália, passando antes por Paris e Lion, cidade que lhe agradou muitíssimo. Passou por Turim, cuja Universidade lhe concedeu o título de doutor em teologia, sendo muito admiradas as suas aulas, que expunham de forma original e convidativa os textos cristãos.
Residiu brevemente em Bologna – que era um grande centro cultural italiano – passando pouco depois à Florença, onde também foi homenageado pelas universidades e centros de cultura. Regressou pouco tempo depois à Bologna, onde o papa Jacob II o saudou, e lhe disse que seria muito bem vindo em Roma, se resolvesse lá fixar residência.
Foi para Roma e lá ficou durante um ano, sendo estimado por todos, pois o papa não parava de elogiar os profundos conhecimentos de Erasmo, que nesta época já era famoso em toda Europa.
Encaminhando-se em Veneza, travou amizade com o impressor Aldo Monucio, que pouco tempo antes, em 1500, havia publicado uma obra sua, chamada Adágios. Aldo foi seu anfitrião em Veneza, mas Erasmo demonstrou ingratidão ao satirizar Aldo e sua família.
Em 1508, Erasmo abandonou Veneza, e passou uma curta temporada em Pádua, retornando depois para Roma. No caminho parou por alguns dias na cidade de Siena, onde visitou um antigo aluno.
O êxito de seu adágio lhe valeu novas amizades e o ingresso nos círculos culturais, e também uma infinidade de alunos, que ansiavam por aprender suas lições.
O papa o dispensou de seus votos clericais, que havia assumido anteriormente. E isso permitiu-lhe uma maior liberdade para se vestir e uma maior flexibilidade de costumes.
Quando Henrique VII – que Erasmo conhecera quando este era princípe herdeiro - assume o trono da Inglaterra, insiste muito para que fique com ele, pois lembrava das lições de Erasmo na Universidade de Cambridge.
Por volta do ano de 1511, permaneceu um ano na localidade de Addington, a convite do arcebispo de Canterbury. De lá saiu por ser uma província demasiado pequena e não poder relacionar-se com pessoas mais instruídas, como costumava fazer.
Nesta época começou a sentir-se mal de saúde, sofrendo enfermidades e moléstias, por conta do clima nebuloso da ilha. Passou a pensar em morar num melhor clima, onde pudesse ainda manter-se estudando.
Em 1513 foi para a Alemanha, passando pelas cidades mais importantes até chegar à Basiléia. Era sempre bem recebido por onde chegava. Na Basiléia foi chamado novamente pela corte inglesa, onde permaneceu até 1516, indo então para a Holanda, na corte do jovem monarca Carlos, que lhe nomeou seu conselheiro, assegurando-lhe uma pensão de 400 florins. Erasmo não era obrigado a morar com ele e pouco trabalhava. Isto lhe deu liberdade para que viajasse a vontade às custas do estado.
Com o dinheiro da pensão, Erasmo comprou uma casa sossegada num lugar aprazível, onde se rodeou de comodidades, afim de passar confortavelmente o inverno. Erasmo sempre sofreu com o inverno, e por isto desta vez equipou bem a sua casa, com estufa e forros na parede.
Sua prosperidade foi crescendo, e com o dinheiro que sobrava, subsidiava jovens estudantes que mostravam predisposição para a filologia e a literatura. Aos políticos que lhe vinham pedir conselho, geralmente não atendia, pois não se considerava político e achava que isso deveria ser feito só pelos que se dedicavam à essa área, a qual não tinha vocação. A vida de Erasmo era totalmente dedicada ao labor intelectual, e tudo que estivesse fora disto era evitado.
Os lugares de preferência de Erasmo era a Lavaina, Basiléia, Bruxelas, Amberes e Londres. Em Londres ia sempre que o monarca inglês solicitava seus serviços. Residiu durante muitos anos na sua tranquila propriedade da Basiléia, estabelecendo notável correspondência com os filósofos e eruditos mais celébres de seu tempo, como Escolampadro, beato Rheananus e Gloreano.
Com a chegada da reforma na Alemanha, Erasmo se vê obrigado a emigrar, indo pra Friburgo de Brisgau, onde adquiriu uma casa modestíssima, que preparou conforme seu gosto, para poder se dedicar à escritura e a à leitura, únicos prazeres verdadeiros de sua vida de solitário.
Erasmo, que deixara a Basiléia por ser contra os protestantes, começa a ser hostilizado também na Holanda, com a instauração das doutrinas protestantes em sua pátria. Isto lhe fez perder sua serenidade. Tanto católicos como protestantes vinham pedir seus conselhos sobre qual era a melhor forma de praticar a religião.
Aplacadas as lutas ideológicas, marchou para Roma, onde o papa Paulo III lhe deu um priorato em Deventer. Marchou para Paris, mas antes deteve-se alguns meses na Basiléia, onde imprimiu algumas de suas obras. Mas as enfermidades voltaram a ficar graves e durante o inverno, que lhe foi terrível, se viu obrigado a permancer mais tempo. ficou em sua casa na Basiléia debaixo das cobertas, completamente doente.
Na convalescência, chegou a começar uma edição crítica das obras de Orígenes, mas por pouco tempo. Em 11 de junho de 1536 falecia aquele que era chamado de ” o príncipe dos humanistas”. Grandes foram as homenages que lhe foram prestadas em quase toda a Europa. Na Espanha seu nome gozou de especial predileção, pois muitos discípulos escreviam inúmeros estudos a seu respeito, o que ficou conhecido como erasmismo. Seu corpo foi sepultado na catedral da Basiléia.
A OBRA:
Elogio da Loucura – Erasmo de Rotterdam
“Um mal não é um mal para quem não o sente; Que te importa se todos te vaiam se tu mesmo te aplaudes?”
Erasmo de Rotterdam foi pregador do evangelismo filosófico, padre e crítico da igreja católica. Escrita em 1509, Elogio da Loucura é sua obra mais conhecida, dedicada a Sir Thomas More, filósofo humanista e santo da Igreja Católica que foi executado por ordem de Henrique VIII na Torre de Londres.
Apesar de ser um livro antigo, continua muito atual, até mesmo em suas denuncias políticas, o que mostra o poder e consistência das argumentações de Erasmo.
Como se fosse um monólogo, ele personifica uma personagem conhecida, porém pouco discutida: A Loucura. Indignada com a falta de elogios e respeito de seu trabalho, ela resolve elogiar a si mesma e mostrar como é importante na sociedade. Sempre vista como uma doença ou algo indesejado, ela se mostra encantadora. Apegada a detalhes do nosso cotidiano, ela se coloca necessária e faz com que nós, leitores, gostemos dela.
‘Prova’ estar presente nas artes e nas ciências, na religião (Está escrito no primeiro capítulo de Eclesiastes: O número dos loucos é infinito. Ora, esse número infinito compreende todos os homens, com exceção de uns poucos, e duvido que alguma vez se tenha visto esses poucos) e na filosofia, nos casamentos (O que seria da raça humana se a insanidade não nos impulsionasse na direção do casamento?) e nas amizades (Não é mérito da Loucura haver no mundo laços de amizade que nos liguem a seres perfeitamente imperfeitos e defeituosos?) dizendo que está presente até no “bom senso”.
Ela nos mostra como são patéticas as pessoas que se apegam a coisas vazias e propõe que devemos viver como as crianças e os idosos.
Não é sempre que encontramos a Loucura por ela mesma. Vale a pena!
Desidério Erasmo nasceu em Rotterdão no dia 28 de outubro de 1467 e faleceu na Basiléia em 11 de junho de 1536. É um pensador humanista de grande importância, ligado ainda à teologia. Filho de Gerardius de Präel, que morreu quando Erasmo tinha treze anos, em 1480. Era chamado de " filho de Geraldo", pois era comum naquela época os filhos serem conhecidos pelos nomes dos pais. Começou seus estudos em Guda, e pouco depois passou para a catedral, como pajém. Foi então para a célebre escola de Alexandre Hegius, em Deventer, até que morreu sua mãe. Então parou de estudar, por falta de recursos.
A pedido de seus parentes e tutores, foi para o seminário de Bois-de-Due. Devido seu caráter introspectivo e por ser um estudioso aplicado, julgavam-no apto para seguir a carreira monástica e tornar-se padre. Porém, nos três anos em que Erasmo passou como seminarista, não ocupou-se muito com a filosofia e com a religião, preferindo a música e a pintura.
Após este período, voltou para Guda, onde viveu com seus tutores. Lá, com 19 anos, decidiu seguir a vida do claustro, junto com seu amigo Cornelio Verdenius, antigo companheiro em Deventer. Foi então para o convento de Stéin o Emmaus, nos arredores de Guda. Após mais um tempo no convento, decidiu definitivamente que não havia nascido para monge. Mas para não desagradar seus parentes, fez os votos e continuou estudando. Enquanto seus companheiros de monastério se dedicavam aos cultos religiosos, Erasmo ia sozinho para a biblioteca e lá passava horas estudando, fazendo anotações. Isto levou a formação de uma cultura superior, que mais tarde tornou-se a causa de seu êxito intelectual e da fama de sua erudição. Se entusiasmou com as obras do humanista Lorenzo Valla, e em companhia de seu amigo Guilherme Hermann – que tornou-se poeta lírico – , aprendeu a língua latina. A língua latina era a língua escrita por execelência, além de ser básica na Igreja católica, que ainda dominava em grande parte a cultura da Idade Média. O conhecimento do Latim possibitou a Erasmo fazer-se entender em outros países.
Erasmo, orfão de pais desde cedo, obrigado a viver a vida regrada dos monastérios, já exercia no começo de sua juventude a agudez satírica que o consagraria mais tarde em seu Elogio da Loucura. Por essa época, divertia-se com pequenos ensaios, como o “De Contemptu Mundi”, que ironizava a vida dos monges, relevando o aspecto mundano destes.
Felizmente, não precisou continuar muito mais tempo nesta vida, pois graças ao seu bom latim, foi nomeado por seus superiores para acompanhar até Roma Enrique de Bergen, bispo de Cambrai, a quem o papa havia concedido o título de cardeal. A viagem durou bastante e o cardeal foi seu protetor durante este tempo. Para acompanhá-lo, Erasmo foi ordenado presbítero. É uma constante da vida de Erasmo a ajuda e o suporte de amigos, mecenas e pessoas poderosas que se interessavam pela cultura.
Em 1486, Erasmo foi para Paris terminar seus estudos. Se instalou no colégio Montaigú, onde sentia repugnância pelos ensinamentos teológicos e pela comida, que era basicamente a base de peixe, alimento que lhe fazia mal. Aguentou durante três meses esta situação, até que lhe autorizaram a voltar para Cambrai, onde residiu por mais um ano. Lá se curou das enfermidades que lhe ocorreram durante sua estada na França.
Ao cabo deste ano, voltou a Paris, mas sem a proteção de Enrique de Bergen, que havia falecido, foi obrigado a se iniciar como professor particular para sobreviver. Conseguiu alguns discípulos ricos, que lhe davam excelente pagamento. Entre seus discípulos estava Guilherme Mountjoy, um inglês, que gostava muito de Erasmo e lhe acolheu em sua casa, com o consentimento de seus pais, estes muito estimaram a presença de um professor de maneiras corretas e grande cultura.
Foi então que uma grande peste assolou Paris, e centenas de habitantes começram a morrer diariamente. Erasmo fugiu para o sul da França, onde travou amizade com a marquesa Ana de Vera, que também ficou encantada com Erasmo e passou a lhe fornecer uma pensão de cem florins.
Pouco tempo depois Erasmo foi para Orleans, onde permaneceu três meses na casa do catedrático Jaime Tudor, que havia conhecido em Cambrai, onde Tudor lecionava direito canônico.
Em 1497, foi com seu discípulo Guilherme Mountjoy para Londres, onde permaneceu até 1500. Lá visitou a Universidade de Cambridge e Oxford, onde travou amizade com os mais insígnes humanistas da época, como Thomas More – de quem tornou-se grande amigo – , Juan Coleti, Guilhermo Crocyn e Latimer.
Thomas More o apresentou ao rei Henrique VII, que o recebeu com muita estima, pois Erasmo sempre se fazia simpático e amigável com os poderosos.
Na Universidade de Oxford, terminou seus estudos em grego, um idioma que só os eruditos conheciam na época. Este conhecimento serviu de ponte para sua relação com o douto filósofo Juan Colet, que lhe deu a conhecer obras importantíssimas, como a primeira versão da Bíblia. O conhecimento deste manuscrito foi decisivo para Erasmo se apartar da filosofia escolástica.
Volta então à França, passando pelas cidades de Paris, Orleans, e Lovaina, analisando as obras curiosas das bibliotecas locais.
Vivendo quase que exclusivamente da escrita, como acontecia com a maior parte dos humanistas. Começou a publicar vários livros e tratados, que chamaram a atenção dos estudiosos e lhe conferiram uma grande autoridade intelectual. Os poderosos e magnatas passaram a solicitar a companhia de tal estudioso, tão versado nas ciências filológicas e literárias. Em 1504, o encarregaram de recepcionar o novo governante, o arquiduque Felipe, recebendo por este trabalho 50 moedas de ouro, o que solucionou seu problema financeiro por dois anos. Pouco tempo depois, na Louvania, travou relação com um grupo de teólogos, entre os quais o futuro Alexandre VI e o fransciscano P. Vitrarius, que se tornou seu amigo íntimo e o ajudou economicamente depois.
Graças a um mecenas de Lovaina, editou as obras de um de seus autores prediletos, o sábio Lorenzo Valla. Se dedicou às obras sobre o Novo Testamento deste sábio, e escreveu para elass um prefácio considerado interessantíssimo, que foi muito comentado em todas as partes.
Um dos grandes desejos de sua vida era conhecer bem a Itália, mas as suas ocupações e problemas financeiros não permitiam a realização de tal projeto.
Seus numerosos amigos de Londres lhe facilitaram uma cátedra em Cambridge, onde lecionava seu antigo discípulo Guilhermo, que sempre o estimou.
Em 1506 Erasmo finalmente realizou seu desejo de viajar para a Itália, passando antes por Paris e Lion, cidade que lhe agradou muitíssimo. Passou por Turim, cuja Universidade lhe concedeu o título de doutor em teologia, sendo muito admiradas as suas aulas, que expunham de forma original e convidativa os textos cristãos.
Residiu brevemente em Bologna – que era um grande centro cultural italiano – passando pouco depois à Florença, onde também foi homenageado pelas universidades e centros de cultura. Regressou pouco tempo depois à Bologna, onde o papa Jacob II o saudou, e lhe disse que seria muito bem vindo em Roma, se resolvesse lá fixar residência.
Foi para Roma e lá ficou durante um ano, sendo estimado por todos, pois o papa não parava de elogiar os profundos conhecimentos de Erasmo, que nesta época já era famoso em toda Europa.
Encaminhando-se em Veneza, travou amizade com o impressor Aldo Monucio, que pouco tempo antes, em 1500, havia publicado uma obra sua, chamada Adágios. Aldo foi seu anfitrião em Veneza, mas Erasmo demonstrou ingratidão ao satirizar Aldo e sua família.
Em 1508, Erasmo abandonou Veneza, e passou uma curta temporada em Pádua, retornando depois para Roma. No caminho parou por alguns dias na cidade de Siena, onde visitou um antigo aluno.
O êxito de seu adágio lhe valeu novas amizades e o ingresso nos círculos culturais, e também uma infinidade de alunos, que ansiavam por aprender suas lições.
O papa o dispensou de seus votos clericais, que havia assumido anteriormente. E isso permitiu-lhe uma maior liberdade para se vestir e uma maior flexibilidade de costumes.
Quando Henrique VII – que Erasmo conhecera quando este era princípe herdeiro - assume o trono da Inglaterra, insiste muito para que fique com ele, pois lembrava das lições de Erasmo na Universidade de Cambridge.
Por volta do ano de 1511, permaneceu um ano na localidade de Addington, a convite do arcebispo de Canterbury. De lá saiu por ser uma província demasiado pequena e não poder relacionar-se com pessoas mais instruídas, como costumava fazer.
Nesta época começou a sentir-se mal de saúde, sofrendo enfermidades e moléstias, por conta do clima nebuloso da ilha. Passou a pensar em morar num melhor clima, onde pudesse ainda manter-se estudando.
Em 1513 foi para a Alemanha, passando pelas cidades mais importantes até chegar à Basiléia. Era sempre bem recebido por onde chegava. Na Basiléia foi chamado novamente pela corte inglesa, onde permaneceu até 1516, indo então para a Holanda, na corte do jovem monarca Carlos, que lhe nomeou seu conselheiro, assegurando-lhe uma pensão de 400 florins. Erasmo não era obrigado a morar com ele e pouco trabalhava. Isto lhe deu liberdade para que viajasse a vontade às custas do estado.
Com o dinheiro da pensão, Erasmo comprou uma casa sossegada num lugar aprazível, onde se rodeou de comodidades, afim de passar confortavelmente o inverno. Erasmo sempre sofreu com o inverno, e por isto desta vez equipou bem a sua casa, com estufa e forros na parede.
Sua prosperidade foi crescendo, e com o dinheiro que sobrava, subsidiava jovens estudantes que mostravam predisposição para a filologia e a literatura. Aos políticos que lhe vinham pedir conselho, geralmente não atendia, pois não se considerava político e achava que isso deveria ser feito só pelos que se dedicavam à essa área, a qual não tinha vocação. A vida de Erasmo era totalmente dedicada ao labor intelectual, e tudo que estivesse fora disto era evitado.
Os lugares de preferência de Erasmo era a Lavaina, Basiléia, Bruxelas, Amberes e Londres. Em Londres ia sempre que o monarca inglês solicitava seus serviços. Residiu durante muitos anos na sua tranquila propriedade da Basiléia, estabelecendo notável correspondência com os filósofos e eruditos mais celébres de seu tempo, como Escolampadro, beato Rheananus e Gloreano.
Com a chegada da reforma na Alemanha, Erasmo se vê obrigado a emigrar, indo pra Friburgo de Brisgau, onde adquiriu uma casa modestíssima, que preparou conforme seu gosto, para poder se dedicar à escritura e a à leitura, únicos prazeres verdadeiros de sua vida de solitário.
Erasmo, que deixara a Basiléia por ser contra os protestantes, começa a ser hostilizado também na Holanda, com a instauração das doutrinas protestantes em sua pátria. Isto lhe fez perder sua serenidade. Tanto católicos como protestantes vinham pedir seus conselhos sobre qual era a melhor forma de praticar a religião.
Aplacadas as lutas ideológicas, marchou para Roma, onde o papa Paulo III lhe deu um priorato em Deventer. Marchou para Paris, mas antes deteve-se alguns meses na Basiléia, onde imprimiu algumas de suas obras. Mas as enfermidades voltaram a ficar graves e durante o inverno, que lhe foi terrível, se viu obrigado a permancer mais tempo. ficou em sua casa na Basiléia debaixo das cobertas, completamente doente.
Na convalescência, chegou a começar uma edição crítica das obras de Orígenes, mas por pouco tempo. Em 11 de junho de 1536 falecia aquele que era chamado de ” o príncipe dos humanistas”. Grandes foram as homenages que lhe foram prestadas em quase toda a Europa. Na Espanha seu nome gozou de especial predileção, pois muitos discípulos escreviam inúmeros estudos a seu respeito, o que ficou conhecido como erasmismo. Seu corpo foi sepultado na catedral da Basiléia.
A OBRA:
Elogio da Loucura – Erasmo de Rotterdam
“Um mal não é um mal para quem não o sente; Que te importa se todos te vaiam se tu mesmo te aplaudes?”
Erasmo de Rotterdam foi pregador do evangelismo filosófico, padre e crítico da igreja católica. Escrita em 1509, Elogio da Loucura é sua obra mais conhecida, dedicada a Sir Thomas More, filósofo humanista e santo da Igreja Católica que foi executado por ordem de Henrique VIII na Torre de Londres.
Apesar de ser um livro antigo, continua muito atual, até mesmo em suas denuncias políticas, o que mostra o poder e consistência das argumentações de Erasmo.
Como se fosse um monólogo, ele personifica uma personagem conhecida, porém pouco discutida: A Loucura. Indignada com a falta de elogios e respeito de seu trabalho, ela resolve elogiar a si mesma e mostrar como é importante na sociedade. Sempre vista como uma doença ou algo indesejado, ela se mostra encantadora. Apegada a detalhes do nosso cotidiano, ela se coloca necessária e faz com que nós, leitores, gostemos dela.
‘Prova’ estar presente nas artes e nas ciências, na religião (Está escrito no primeiro capítulo de Eclesiastes: O número dos loucos é infinito. Ora, esse número infinito compreende todos os homens, com exceção de uns poucos, e duvido que alguma vez se tenha visto esses poucos) e na filosofia, nos casamentos (O que seria da raça humana se a insanidade não nos impulsionasse na direção do casamento?) e nas amizades (Não é mérito da Loucura haver no mundo laços de amizade que nos liguem a seres perfeitamente imperfeitos e defeituosos?) dizendo que está presente até no “bom senso”.
Ela nos mostra como são patéticas as pessoas que se apegam a coisas vazias e propõe que devemos viver como as crianças e os idosos.
Não é sempre que encontramos a Loucura por ela mesma. Vale a pena!
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