domingo, 19 de fevereiro de 2012

Manuelino

Arte arquitetónica, integrada na fase final do Gótico, onde se denotam características ligadas à expansão marítima portuguesa.A designação "arquitetura manuelina" foi criada por Francisco Varnhagen, ao descortinar uma unidade formal nas obras realizadas ao tempo de D. Manuel I, conotadas com o período de expansão marítima e imbuídas de extraordinário exotismo. Facilmente se criou o mito da influência oriental, embora a partir da publicação do opúsculo de Joaquim de Vasconcelos (1885) "Da Architectura Manuelina" tenha surgido uma corrente que nega qualquer triunfo de originalidade ao estilo, uma vez que se inseria numa cadeia internacional de fenómenos idênticos: hispano-flamengo; gótico final francês e alemão, etc. O Manuelino não passava então da fase final do estilo Gótico integrado nas correntes europeias.Na realidade, a arquitetura manuelina é fruto de um série de variantes: por um lado, a continuidade da arte quatrocentista inserida nas correntes internacionais do Gótico; por outro, a introdução de modos europeus distintos (influência inglesa; incorporação do ornato mudéjar; tipologias mediterrânicas e do Norte da Europa; plateresco espanhol). A envolver o conjunto de modo algo impositivo, a utilização da heráldica manuelina, omnipresente a nível decorativo. Embora não se possa falar propriamente de um estilo, estamos perante uma liberdade criativa singular que caracterizou a expressão portuguesa do gótico tardio.A nível da planta assistimos, entre 1490 e 1530, ao recurso a diferentes soluções. As igrejas de três naves, com a central de maior altura, coberta por travejamento de madeira (paroquiais de Caminha, Golegã, S. Pedro de Torres Vedras e Sés de Lamego e Funchal), havendo também exemplos totalmente abobadados (matriz de Viana do Alentejo; Alvito). Normalmente têm a cabeceira reta com uma ou mais capelas. Depois, identificam-se as igrejas de uma nave e cabeceira e capela única, abobadadas nos exemplos mais ricos (Loios de Évora, Santa Cruz de Coimbra, Conceição de Beja). Seguindo a mesma tipologia, há as que apenas têm capela-mor abobadada (Trás-os-Montes e Beira Alta), aparecendo ainda as modestas capelas de nave única e cobertura de madeira. De nova conceção espacial temos as já referidas igrejas de nave única e as igrejas-salão (de Jesus de Setúbal, Jerónimos, Freixo de Espada à Cinta).A nível volumétrico, a simplicidade é a palavra de ordem, sendo o ritmo quebrado pela justaposição de corpos. Os contrafortes arredondam-se e deixam-se aligeirar de elementos decorativos. Relativamente às coberturas, o Sul prefere a abóbada com penetrações, a Estremadura recorre às nervuras curvas, de carácter decorativo - achata-se o perfil das abóbadas, a decoração adensa-se, as nervuras multiplicam-se e recorrem à ornamentação de chaves - e o Norte revela-nos os "combados" (abóbadas com anel central circular que permite um maior achatamento da cobertura). Os combados alastram-se ao resto do país por volta de 1520-1530.As novidades no sistema de abobadamento, a par com a nova espiritualidade, decorrente da "devotio moderna", convergem numa reorganização e unificação espacial interna - pretende-se que os fiéis comunguem e se unam em torno de uma só mensagem. No entanto, o exterior dos templos ainda recorre à linguagem utilizada pela arquitetura militar.É na decoração que esta arte mais se supera - a arquitetura é envolta pelo ornato, que alastra numa nova redimensionação do volume, ao serviço de uma simbologia régia e de um discurso cristológico que intensifica o culto à Virgem Maria. A turgidez, a aparente desarmonia, o pitoresco, a proliferação vegetalista não podem ser vistos como decoração avulsa, mas sim como sistemas coerentes de significação. A decoração parece querer ultrapassar-se a si própria, num hiper-realismo fantástico. No campo da ornamentação houve programas de orientação régia, exaltando a instituição real e transmitindo uma mensagem evangélica (Jerónimos; Torre de Belém), a par de outros geralmente de cariz popular.O Sul abriu-se à inovação sob influência do Midi francês e da Catalunha, além do mudejarismo. O Centro foi campo de ação para a dupla Mateus Fernandes e Boitaca, influenciados pela arquitetura do Languedoc e do Norte da Europa. O Norte manteve a tradição das igrejas de três naves, renovadas pela influência dos mestres biscainhos (utilização dos combados) e da ornamentação plateresca.
DO MANUELINO AO RENASCIMENTO E BARROCO

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