“Umas das características mais salientes da organização da vida grega, é o regime da polis ou cidade-estado, fenómeno singular, cuja explicação cabal ainda não foi dada. É certo que o factor geográfico (compartimentação das terras pelas altas montanhas, dificuldades de comunicação) favorece a eclosão do sistema (…).
O factor geográfico será, pois, quando muito, umas das causas a apontar. Outra, que já tem sido indicada com mais razão, é que a insegurança posterior à invasão dórica e a falta de um poder central forte que defendesse os homens os levou a unir-se em pequenos territórios. (…)
Cada polis era uma pequena nação, e a Hélade uma unidade supranacional, como a Europa moderna em relação aos vários países independentes que a compõem (…).
Como afirma Heródoto os gregos tinham o mesmo sangue, a mesma língua, templos dos deuses e sacrifícios comuns, bem como os hábitos e costumes. Sentiam-se Gregos não pelo critério da raça, mas da identidade de língua, religião, costumes, enfim, pela cultura, como defendia Isócratres.
Além disso, os Gregos viviam numa polis, sujeitos apenas às suas leis, o que, a seu ver, os distinguia dos bárbaros, mais do que qualquer outro predicado.
A polis é um sistema de vida, e, por consequência, forma os cidadãos que nela habitam.
Mas afinal como se concretiza este fenómeno?
Uma certa extensão territorial, nunca muito grande, continha uma cidade, onde havia o lar com o fogo sagrado, os templos, as repartições dos magistrados, a agora, onde se efectuavam as transacções; e, habitualmente, a cidadela, na acrópole. A cidade vivia do seu território e a sua economia era essencialmente agrária. Cada uma tinha a sua constituição própria, de acordo com a qual exercia três espécies de actividade: legislativa, judiciária e administrativa. Não menores eram os deveres para com os deuses, pois a polis assentava em bases religiosas, e as cerimónias do culto eram ao mesmo tempo obrigações civis, desempenhadas pelos magistrados.
É neste regime político, que emergira da Idade Obscura, que a Grécia viverá até à época helenística, em que finalmente se há-de dissolver.”
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Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos da História da Cultura Clássica, Vol. I, Cultura Grega, 1998
Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos da História da Cultura Clássica, Vol. I, Cultura Grega, 1998
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