sábado, 31 de dezembro de 2011

ORDENS MONÁSTICAS: ORDEM BENEDITINA

 A Regula Benedicti foi composta em 529 para a abadia de Montecassino, na Itália, por Bento de Núrsia (480-543). Ela preceituava a pobreza, a castidade, a obediência, a oração e o trabalho, bem como a obrigação de hospedar peregrinos e viajantes em seus mosteiros, dar assistência aos pobres e promover o ensino. Por este último motivo, ao lado dos seus mosteiros, havia sempre uma escola, razão pela qual ainda, a ordem tornou-se em um dos centros culturais da idade Média, com as suas bibliotecas reunindo o que restara das obras e ensinamentos da Antiguidade.
Embora a fundação da ordem seja anterior a ele, considera-se que terá verdadeiramente tomado impulso a partir da reunião de vários mosteiros que professavam a regra por ele escrita, isso muito após a sua morte. Mais tarde, os monges dessa ordem passaram a ser conhecidos como "beneditinos".
Hoje em dia, a ordem está espalhada por todo o mundo, com mosteiros masculinos e femininos.
Seguindo o seu exemplo e inspiração, diversos fundadores de ordens religiosas têm baseado as normas e regras de seus mosteiros na regra deixada por Bento, cujo princípio fundamental é Ora et labora, o que quer dizer "Reza e trabalha."
ORDEM BENEDITINA
Os mosteiros beneditinos são sempre dirigidos por um superior que, dependendo da categoria do mosteiro, pode chamar-se prior ou abade. Ele é escolhido pelo restante dos monges. O ritmo de vida beneditino tem como eixo principal o Ofício Divino, também chamado de Liturgia das Horas, que se reza sete vezes ao dia, tal como São Bento havia ordenado. Junto com a intensa vida de piedade e oração, em cada mosteiro se trabalha arduamente em diversas atividades manuais, agrícolas etc. para o sustento e o autoabastecimento da comunidade monástica.
REFORMAS DA ORDEM BENEDITINA
Durante o transcurso da sua história, a ordem Beneditina sofreu numerosas reformas, devido à eventual decadência da disciplina no interior dos mosteiros. A primeira reforma importante foi levada a cabo por São Juan De Perez Lloma no século X; essa reforma, chamada cluniacense (nome proveniente de Cluny, lugar da França onde se fundou o primeiro mosteiro desta reforma), chegou a tomar um grande impulso a tal ponto que, durante grande parte da idade Média, praticamente todos os mosteiros beneditinos estavam sob o domínio de Cluny.
Os cluniacenses adquiriram grande poder econômico e político e os abades mais importantes chegaram a fazer parte das cortes imperiais e papais. Vários pontífices romanos foram beneditinos provenientes dos mosteiros cluniacenses (Alexandre II, 1061-73; S. Gregório VII, 1073-85; beato Vitor III, 1086-87; beato Urbano II, 1088-99; Pascoal II, 1099-1118; Gelásio II, 1118-19; et cétera).
Tanto poder adquirido levou à decadência da reforma cluniacense, que encontrou uma importante contraparte na reforma cisterciense, palavra proveniente de Cister, na França, onde se fundou o primeiro mosteiro dessa reforma. São Roberto de Molesmes, Santo Estevão Harding e São Roberto de Chaise-Dieu foram os fundadores da abadia de Cister em 1098. Buscavam afastar-se do estilo cluniacense, que caíra na indisciplina e no relaxamento da vida monástica. O principal objetivo dos fundadores de Cister foi impor a prática estrita da regra de São Benito e o regresso à vida contemplativa.
O principal impulsionador dessa reforma foi S. Bernardo de Claraval (1090-1153), que foi discípulo dos fundadores de Cister, tendo ingressado ali por volta de 1108. Foi-lhe encarregada a fundação da abadia de Claraval, da qual foi abade durante uns 38 anos, até sua morte. Bernardo de Claraval converteu-se no principal conselheiro dos papas e vários dos seus monges chegaram igualmente a ocupar a sede pontifícia. Bernardo predicou, também, a Segunda Cruzada. Ao falecer, levava fundados 68 mosteiros da sua ordem.
A reforma cisterciense subsiste até hoje como ordem beneditina independente, dividida igualmente em dois ramos: a ordem Cisterciense da Comum Observância (O. Cist.) e a ordem Cisterciense da Estrita Observância (OCSO), também conhecidos como Trapenses. São chamados também "beneditinos brancos", devido à cor do seu hábito, em contraste com os demais monges da ordem de São Bento, chamados de "beneditinos negros".
Durante a idade Média, surgiram outras reformas importantes da ordem Beneditina. A de S. Romualdo (†1027), que deu começo à reforma Camaldulense. Essa reforma subsiste até hoje em dois ramos: a primeira faz parte da confederação Beneditina (beneditinos negros); a segunda é independente, mas rege-se igualmente pela regra de São Bento. Outra reforma importante foi a empreendida por são Juan Gualberto (†1073), que fundou os beneditinos de Valle Umbrosa, pelo lugar na Itália em que se construiu o primeiro mosteiro desta reforma; é igualmente, hoje em dia, uma congregação da confederação Beneditina. A reforma de S. Silvestre (1177-1267), fundou os beneditinos de Montefano, que subsiste também hoje como congregação associada à confederação Beneditina. A reforma do beato Bernardo Tolomei (1272-1348) deu origem aos beneditinos de Monte Oliveto, hoje também parte integrante da confederação Beneditina.
Após agitados períodos da história, como a Reforma na Alemanha e nos Países Baixos; a expulsão ou execução de religiosos católicos por Henrique VIII na Inglaterra; o período revolucionário na França e a decadência da disciplina nos mosteiros, ocorreu uma redução drástica da população de monges. Depois da Revolução Francesa, foi Dom Prosper Guéranger quem fez renascer a ordem beneditina em Solesmes a partir de 1833, na França.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ORDENS MONÁSTICAS: ORDEM DE CISTER

 Fato de Monge de Cister Medieval
A sua origem remonta à fundação da Abadia de Cister (em latim, Cistercium; em francês, Cîteaux), na comuna de Saint-Nicolas-lès-Cîteaux, Borgonha, em 1098, por Roberto de Champagne, abade de Molesme. Este, juntamente com alguns companheiros monges, deixara a congregação monástica de Cluny para retomar a observância da antiga regra beneditina, como reação ao relaxamento da Ordem de Cluny.
Através da "Charta Charitatis", em complemento à regra da Ordem de São Bento, Estevão - terceiro abade de Cister - estabeleceu que a autoridade do suprema da Ordem seria exercida por uma reunião anual de todos os abades. Os mosteiros eram supervisionados pelo mosteiro-sede, em Citeaux, e pelos quatro mosteiros mais antigos da Ordem.
A ordem terá um papel importante na história religiosa do século XII, vindo a impor-se em todo o Ocidente por sua organização e autoridade. Uma de suas obras mais importantes foi a colonização da região a leste do Elba, onde promoveu simultaneamente o cristianismo, a civilização ocidental e a valorização das terras.
Restauração da regra beneditina inspirada pela reforma gregoriana, a ordem cisterciense promove o ascetismo, o rigor litúrgico e erige, em certa medida, o trabalho como valor fundamental, conforme comprovam seu patrimônio técnico, artístico e arquitetônico.
Além do papel social que desempenha até a Revolução Francesa, a ordem exerce grande influência no plano intelectual e econômico, assim como no campo das artes e da espiritualidade, devendo seu considerável desenvolvimento a Bernardo de Claraval (1090-1153), homem de excepcional carisma. Sua influência e seu prestígio pessoal o tornaram o mais célebre dos cistercienses. Embora não seja o fundador da ordem, continua sendo o seu mentor espiritual.
Atualmente, a ordem cisterciense é de fato constituída de duas ordens religiosas e várias congregações. A ordem da « Comum Observância contava em 1988 com mais de 1300 monges 1500 monjas, distribuídos em 62 e 64 monastérios, respectivamente. A ordem cisterciense da estrita observância (também chamada o.c.s.o.) compreende atualmente quase 3000 monges e 1875 monjas, distribuídos em cento e dois monastérios masculinos e setenta e dois monastérios femininos, em todo o mundo. São comumente chamados "trapistas", pois a criação da ordem resultou da reforma da abadia da Trapa (em Soligny-la-Trappe, Baixa-Normandia,França).
Mesmo separadas, as duas ordens têm ligações de amizade e relações de colaboração. O hábito também é semelhante. Os cistercienses são conhecidos como monges brancos em razão da cor do seu hábito.
Embora sigam a regra beneditina, os monges cistercienses não são propriamente considerados beneditinos. Foi no IV Concílio de Latrão (1215) que a palavra "beneditino" surgiu, para designar os monges que não pertenciam a nenhuma ordem centralizada, em oposição aos cistercienses.

BIOGRAFIA: SÃO BENTO DE NÚRSIA

São Bento de Núrsia
São Bento de Núrsia
Nascido em Núrsia, Itália, em cerca de 480, morreu em Monte Cassino em 21 de março de 543 ou 547, a sua vida é conhecida através dos Diálogos do Papa São Gregório Magno. Filho de proprietários rurais, segundo uns, e de uma família nobre romana de Núrsia, segundo outros, uma tradição aceite por São Bedo diz que ele teria uma irmã gémea chamada Escolástica. São Bento passou a sua juventude a estudar em Roma, mas cedo se retirou da vida dissipadora da cidade e resolveu ir viver para uma comunidade de ascetas em Enfide, fazendo-se mais tarde anacoreta em Subiaco, onde realizou o seu primeiro milagre. Durante estes anos de solidão, São Bento teve tempo de amadurecer as suas ideias, e, pela sua conduta, ganhar o respeito de todos à sua volta. De tal forma que a morte de um abade de um mosteiro das redondezas, que alguns dizem ser de Vicovaro, fez com que a respetiva comunidade escolhesse São Bento como seu abade. Conhecendo a vida e a disciplina do mosteiro e alegando que a sua maneira de viver não estava de acordo com estas, São Bento recusou inicialmente mas, perante a insistência, acabou por dar o seu consentimento. A experiência falhou porque os frades não estavam habituados à maneira dura de viver do santo e tentaram envenená-lo, voltando São Bento para a sua gruta. Os seus milagres tornaram-se frequentes, a partir de então, e muitas pessoas atraídas pela sua santidade vieram viver para Subiaco. Fundou uma comunidade de monges distribuída por doze pequenos mosteiros, em cada um dos quais havia um monge superior e doze monges, mantendo-se o santo abade de todos eles. Nestes mosteiros começaram a funcionar escolas para crianças onde estudaram Mauro e Plácido. Em 529, transferiu-se com os seus monges para o Monte Cassino, onde escreveu a sua famosa Regra e atraiu muitos discípulos e simples fiéis até à data da sua morte com a sua santidade, a sua sabedoria e os seus milagres. Monte Cassino foi fundado no lugar de um antigo templo pagão dedicado a Apolo e São Bento juntou a sua comunidade num único edifício. Ao contrário de Subiaco, Monte Cassino era situado num distrito populoso, com várias dioceses e mosteiros, o que proporcionava o convívio e a visita de prelados, nobres e das restantes classes sociais, tornando-se o refúgio e a proteção dos pobres. Escolástica, a irmã de São Bento, visitava-o uma vez por ano e faleceu numa das visitas tendo vindo a ser enterrada no túmulo que São Bento tinha preparado para si próprio, em Monte Cassino, e onde também veio a ser enterrado. O corpo de São Bento foi trasladado para Fleury, em 693, tendo mais tarde o Papa Zacarias mandado trazer uma parte das suas relíquias para o Monte Cassino. São Bento era conhecido pela sua grande simpatia, carinho e por uma grande capacidade de sacrifício e dedicação à sua comunidade. A Regra de São Bento, escrita em latim vulgar, tem como fontes a Sagrada Escritura, os santos Pacómio, Basílio, Leão Magno, Jerónimo e Agostinho, entre outros. Foi redigida para os cenobitas e é atualmente seguida por Beneditinos, Cistercienses, Camáldulos e outros, tendo sido traduzida em Portugal pela primeira vez em Alcobaça, no século IV. Segundo alguns estudiosos, a Regra de S. Bento foi escrita para leigos, para que estes observassem uma vida o mais próxima possível do Evangelho, e não para clérigos, já que a intenção de S. Bento não era constituir uma ordem ou uma regra para clérigos. Com a imposição por parte da Igreja do estado de clericanismo aos Beneditinos, foi levada a cabo a consequente imposição dos deveres clérigos e sacerdotais. No entanto, as características de leigos permaneceram e distinguem a ordem das restantes. Uma das características da ordem é o trabalho como meio de se atingir o bem e chegar a Deus, a outra é o carácter social da ordem e do seu sentido de comunidade vivendo para o bem dos outros. Seguindo um ideal de pobreza, este é muito diferente do ideal de pobreza defendido por São Francisco de Assis, já que admite alguns poucos bens pessoais e bens da comunidade que podem ser muitos mas devem sempre ser utilizados para benefício do próximo.

ORDENS MONÁSTICAS: A REGRA DE S. BENTO

Regra de S. Bento
Trata-se de um texto escrito por S. Bento (c. 480 - c. 547) no fim da sua vida, composto a partir de 530. Hoje, admite-se que Bento de Núrsia utilizou uma regra anónima ligeiramente anterior, a Regula Magistri (ou "Regra do Mestre"), cuja redação se deve situar entre 500 e 530. "Monumento de vastas proporções, de arquitetura sólida", a Regra de S. Bento coloca um abade à cabeça de cada mosteiro (abade deriva do siríaco apa, pai, cuja helenização deu abbas, assim passando ao latim). Se a "Regra do Mestre" determina que o abade deve ser designado pelo predecessor, a Regra de S. Bento prevê a sua eleição pela comunidade, à cabeça da qual será colocado. O abade, segundo S. Bento, deverá amar os seus monges como seus filhos e fazer-se amar por eles. Rigorosa e exigente no que concerne à disciplina e ao respeito, estrita quanto ao cumprimento do ofício divino, esta Regra distingue-se, todavia, pelo seu carácter humano, fonte de misericórdia e de harmonia. Introduz, igualmente, uma mudança decisiva: as comunidades monásticas, até então a maior parte delas laicas, são a partir de S. Bento compostas de sacerdotes e irmãos leigos. Nascida das experiências quotidianas da vida comunitária, não seguindo um plano lógico estrito, mas distinguindo-se por um sentido de precisão que atinge os mais pequenos detalhes, serviu de base a todas as regras e textos normativos posteriores. A princípio com limitada influência, a Regra começou a ser largamente difundida na época carolíngia, com Bento de Aniana, graças à autoridade na Igreja de Gregório, "o Grande", que confere um lugar de destaque a S. Bento e à sua época. Torna-se mesmo, na época românica, o documento fundamental da vida monástica, servindo de modelo a um grande número de novas ordens que a adotam ou nela se inspiram. A ação dos beneditinos (como dos cistercienses, também seguidores da Regra de S. Bento) alterará profundamente a Europa Ocidental e medieval em todos os seus domínios, fazendo com que S. Bento seja considerado o "Pai da Europa", o fundador do ideal europeu. Por outro lado, a Regra de S. Bento unificará e revitalizará o monaquismo ocidental, visto estar melhor adaptada aos novos tempos e aos monges da Europa Atlântica. Em Portugal, entra com carácter definitivo e de forma clara depois do Concílio Coiança (Castela), em 1020. A Regra de S. Bento foi o melhor sustentáculo da Igreja Medieval primitiva. Rompendo com o ascetismo intransigente do monaquismo oriental, instituiu uma vida comunitária rigorosa, mas razoável e equilibrada. Os seus vetores fundamentais são a humildade, a pobreza, a obediência ao Padre Abade e o respeito pela liturgia. Seis séculos depois da morte de S. Bento ainda não existia outra regra monástica no Ocidente. Tinha já fornecido 20 papas e inúmeros missionários. O ensino nas abadias beneditinas nos períodos agitados era o único sistema de formação de homens cultos e de administradores, cada vez mais confrontados com formas de governos mais complexas. Esta Regra ainda hoje se mantém viva em milhares de mosteiros no mundo inteiro.

ORDENS MONÁSTICAS: ORDEM DE CLUNY

Ordem de Cluny

A carta de fundação da abadia, assinada em setembro de 910 pelo poderoso duque da Aquitânia Guilherme I, cedia a Bernon, abade de Baume-les-Messieurs, uma terra chamada Cluny, na diocese de Mâcon, a cerca de vinte quilómetros desta cidade, bem no centro da França. Esta carta de fundação explicitava com precisão a criação de uma abadia que seguisse a Regra de S. Bento. Com Bernon, vieram alguns monges, os primeiros religiosos da nova abadia, que se enquadrava no projeto de reforma promovida por Bento de Aniane (c-750-821), o qual pretendia unir todos os mosteiros da Europa Ocidental sob a observância da Regra Beneditina. Por esta filiação, se poderá constatar o papel que Cluny desempenhará na difusão da reforma da Igreja mais tarde lançada de forma empenhada pelo papa Gregório VII (1073-1085), a denominada "reforma gregoriana". Cluny, conforme se pode depreender a partir do vocativo (S. Pedro) da abadia, estava diretamente sujeita à Santa Sé, por isso subtraída à jurisdição do bispo de Mâcon. Os abades de Cluny entre os séculos X e XII foram personagens importantes no seu tempo: Bernon (910-927), Odon (927-942), e principalmente os três mais famosos, Maïeul (948-994), Odilon (994-1049) e Hugo (1049-1109). Depois deste tio-avô de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, a abadia conheceu tempos menos brilhantes, devido ao abaciado de Pons de Melgueil (1109-1122), figura instável. Todavia, o seu sucessor conseguiu recuperar e sublimar até o prestígio de Cluny: Pedro de Montboisier (112-1156), dito o Venerável, homem de grande cultura e figura de proa da Cristandade medieval. Era a época do apogeu de Cluny, com mais de 1180 mosteiros dependentes na Europa, dos quais mais de 800 só na França. Depois da segunda metade do século XII, a abadia e a ordem cluniacenses entram em declínio, causado principalmente pelo aparecimento de outras ordens monásticas, como os Cistercienses (em fulgurante expansão), ou mendicantes (franciscanos, dominicanos), para além de cónegos regulares (como os de Santa Cruz, em Portugal). Isenta face ao poder secular dos senhores laicos e à jurisdição dos bispos, a abadia de Cluny conseguirá escapar ao controlo do poder régio até ao século XVI, ao contrário de muitas outras congéneres. Naquela centúria, no entanto, os seus abades passaram a ser nomeados pelo rei de França, ao abrigo da Concordata de Bolonha de 1512. Com o Concílio de Trento, Cluny organiza-se em torno de uma congregação. Um dos priores mais famosos de Cluny, o cardeal de Richelieu (entre 1629 e 1642) tentou unir a congregação à dos Mauristas (de St. Maur), conhecidos pela sua erudição e labor científico profundos. Esta união não sobreviveu à morte de Richelieu (1644). Também um intento de união com outra congregação beneditina francesa, a de St. Vanne, levado a efeito por Mazarin, também cardeal e ministro de França como Richelieu, gorou-se em 1654. As Luzes e o século XVIII revelaram-se ainda mais nefastos para Cluny, acelerando a sua decadência. Assim, em 1744, o bispo de Mâcon acabou por impor a sua jurisdição sobre esta velha abadia. Reconstruiu-se então o edifício monástico ao gosto da época, embora a ocupação monástica fosse cada vez mais reduzida: em 1790, a comunidade não tinha mais de 35 monges. Nesse mesmo ano, na sequência da Revolução Francesa iniciada em 1789, a abadia foi suprimida por decreto revolucionário, ficando à mercê da pilhagem, que ocorreu em 1793. Depois foi posta à adjudicação em 1798, tendo sido comprada em hasta pública por um privado, que logo desmantelou a abadia. Como ordem religiosa, esta grande abadia era a cabeça de um dos ramos mais importantes do monaquismo beneditino: a ordem de Cluny. O abade do mosteiro era o superior da família cluniacense, com todos os abades e priores das centenas de casas da ordem a prestarem-lhe homenagem feudal de vassalagem, numa sujeição variável. Era também este abade de Cluny quem nomeava os superiores dessas comunidades dependentes. Nesta perspetiva, pode falar-se de um "monaquismo cluniacense", ainda que a autonomia que a Regra Beneditina conferia aos mosteiros atenuasse essa sujeição, ao contrário da forte centralidade cisterciense.
Refeição dos monges em Cluny 
Existiam as casas ditas "dependentes", com superior nomeado e controlado pelo abade de Cluny, e as "subordinadas", com o abade a ser eleito pela comunidade. Deste último grupo faziam parte as cinco "filhas" de Cluny: Souvigny, Sauxillange, La-Charité-sur-Loire, St. Martin-des-Champs (Paris) e Lewes (Inglaterra). Todavia existia uma uniformidade de observância e de costumes monásticos entre todas as casas cluniacenses. A originalidade de Cluny traduzia-se essencialmente na liturgia, nutrida e apoiada pela frequência e grande duração dos ofícios. Era de uma riqueza excecional, ímpar até aos dias de hoje, ilustrando a vitalidade de uma espiritualidade completamente direcionada para Deus. Tudo era pouco para honrar e dignificar a Deus, diziam os cluniacenses, como forma de justificar a pompa, magnificência artística e estética e grande elaboração da sua liturgia e da arte dos seus belos mosteiros. De facto, a arte cluniacense inscrevia-se nesta perspetiva grandiosa, de grande qualidade e apuro estéticos, com uma riqueza de simbolismo patentes nas artes plásticas e na arquitetura. Os monges de Cluny, na sua expansão pela Europa, desempenharam um importante papel na vida e política da Igreja, mesmo na organização política, económica e territorial de vastas regiões, assumindo-se quase como um senhor temporal e fundiário igual a tantos outros. Mas a sua importância, superlativada pelos seus abades notáveis em torno do Ano Mil, foi maior em termos espirituais e na "alta" política europeia, como sucedeu quando o imperador germânico Henrique IV apelou a Cluny para mediar a Querela das Investiduras. Também as peregrinações medievais muito devem a Cluny e à sua rede de mosteiros, principalmente ao longo dos chamados "caminhos franceses" em direção a Santiago e mesmo dentro das Espanhas, no "caminho francês". A tradição da hospedagem e apoio aos peregrinos eram apanágio da Regras Beneditinas e uma forma de enfatizar a importância social dos mosteiros que Cluny muito bem soube aproveitar. Em Portugal, Cluny teve uma importância política menor em relação a outras ordens, como Cister ou os Mendicantes, por exemplo. Em Portugal, depois do concílio de Coiança (1050-55, cânon 2) ter introduzido a Regra Beneditina em Portugal, vários foram os mosteiros que a seguiram. No entanto, apenas três estavam "subordinados" a Cluny. Esses três mosteiros ditos cluniacenses foram S. Pedro de Rates, Santa Maria de Vimeiro e Santa Justa de Coimbra.

ARTE GÓTICA: CARATERÍSTICAS

A arte gótica surgiu em França. A abadia de S. Denis , próximo de Paris, é considerada como a primeira construção gótica feita pelo abade Suger.
Entre os séculos XII e XV este estilo artístico desenvolveu-se e espalhou-se por toda a Europa
Surge ligado à renovação económica e urbana e a um novo espírito de religiosidade
É uma arte urbana e de catedrais, que representa a afirmação do poder da burguesia.
ARQUITECTURA
Caracteríticas:
1. VERTICALIDADE - das construções que atingem grandes alturas e terminam em pináculos
2. LUZ – filtrada pelos vitrais deslumbrantes
3. ARCO QUEBRADO ou ARCO GÓTICO – substitui o arco de volta inteira do estilo romântico e confere ao edifício a sensação de elevação.
4. ABÓBADA DE CRUZAMENTO DE OGIVAS – o cruzamento de arcos diagonais de suporte - as ogivas – permite descarregar o peso não sobre as paredes, como acontecia no estilo românico, mas sobre os pilares, possibilitando a construção de paredes mais finas e preenchidas por vitrais, sem afectar a segurança do edifício.
5. ARCOBOTANTE – elemento arquitectónico de apoio e reforço das paredes, composto pelo estribo e pelos arcos e por vezes encimado pelo pináculo.
ESCULTURA
Características:
1. LIGAÇÃO À ARQUITECTURA - nomeadamente, nas fachadas das catedrais.
2. NATURALISMO IDEALIZADO - rostos serenos, vestes detalhadas.
3. GÁRGULAS -esculturas de diabos, monstros ou animais que adornam o exterior da catedral.
4. VALOR DOUTRINAL – as esculturas contavam ao povo analfabeto da Idade Média a vida de Cristo e dos santos, enquanto as gárgulas alertavam para a possibilidade de condenação do pecador.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

ORDENS MENDICANTES

Ordens Mendicantes
Sao_francisco_assis e Sao_domingos
encontro
As Ordens religiosas ditas mendicantes têm por regra fundamental a imposição aos seus membros de nada possuirem em comum. Esta exigência completa a imposição da pobreza individual comum às demais Ordens religiosas. Além disso, é ainda permitido às Ordens Mendicantes o direito de mendigar nos locais públicos, donde advém o seu nome. Estes institutos exercem também atividades caritativas e pastorais, dedicando-se os seus frades - assim se designam os seus efetivos, muitas vezes referidos como monges, estes pertencendo às Ordens Monásticas - também à pregação itinerante, nos meios urbanos preferencialmente. Estas Ordens, fortemente hierarquizadas, desde sempre gozaram do privilégio da isenção, pelo qual o papa libertava uma comunidade religiosa da jurisdição do bispo diocesano, colocando-as sob a alçada do Vaticano. As Ordens Mendicantes existentes compreendem os Dominicanos, os Franciscanos (os mais numerosos, divididos em vários ramos: Frades Menores, Conventuais, Capuchinhos, Terciários), os Agostinhos (Eremitas, Descalços e Recoletos) e os Carmelitas (Calçados, ou da Antiga Observância, e Descalços, ou da Observância Reformada), os Servitas, os Mínimos, os Hospitalários de S. João de Deus, os Mercedários, os Trinitários e a Ordem Teutónica, para além dos ramos femininos de alguns destes institutos religiosos. As raízes destas Ordens remontam ao século XII, período de grande agitação social e espiritual. Numerosas personalidades, visionários ou inspirados, fundam comunidades que rompem com as autoridades constituídas, civis ou religiosas, marginalizando-se socialmente. É o caso dos Valdenses ou dos Cátaros (ou Albigenses), no sul de França, por exemplo. Neste contexto de efervescência religiosa, Domingos de Guzmão (mais tarde, S. Domingos), cónego da catedral de Osma (Castela, Espanha), a convite do papa Inocêncio III, em 1205, acompanhará o seu bispo, Diego, na evangelização dos hereges do Languedoc (sul de França) através da pregação e do exemplo de uma vida sem pecado. Um dos seus primeiros atos será a criação de uma comunidade feminina em Prouille, na diocese de Toulouse. Em 1215, o bispo desta cidade encarregará Domingos de pregar contra os Cátaros na região, depois do seu sucesso em Montpellier. Rapidamente, Domingos achar-se-á à frente de uma comunidade de missionários, origem da futura Ordem dos Pregadores, ou Dominicanos, autorizada pelo papa Honório III em 1216. Na mesma época, por volta de 1209, Francisco, jovem oriundo de uma rica família de mercadores de Assis (Itália Central), renuncia à sua vida fácil e inspirada em ideais de cavalaria, decidindo dedicar-se a uma existência de acordo com os valores do Evangelho. Acabará por fundar uma Ordem, um pouco a seu contragosto, a que chamará de Frades Menores (ou "irmãos pequeninos"), aprovada pelo papa Inocêncio III em 1210, embora a regra definitiva só em 1223 tenha sido aprovada. Estas primeiras Ordens Mendicantes, quase simultâneas, são logo seguidas de duas outras no século XIII: os Eremitas de Sto. Agostinho (1243) e os Carmelitas (1234-1247).
São Francisco de Assis
entrega os Estatutos da Ordem a Santa Clara
Os membros destas Ordens Mendicantes distinguem-se dos monges pelo facto de não acentuarem a contemplação e a liturgia na sua vida religiosa, antes privilegiando a vontade de imitar Cristo no apostolado, tendo uma atitude mais social e ativa. O seu zelo evangélico e aceitação popular eram tais, nos primeiros tempos, que não tardou muito a sofrerem a hostilidade do clero secular e dos bispos. Estes viam com maus olhos os frades mendicantes invadirem o seu domínio, retirando-lhes fontes de rendimento não desprezáveis, devido à concorrência das igrejas das Ordens Mendicantes às igrejas paroquiais. Além disso, os frades mendicantes implantar-se-ão nos colégios e nas universidades, originando-se conflitos com os professores titulares de certas cadeiras. Em 1253, os franciscanos e os dominicanos recusaram-se a participar numa greve organizada pelos estudantes e corpo docente da Universidade de Paris, a mais importante daquele tempo. Seguiu-se um violento conflito, com os papas a apoiar os frades contra os bispos e a universidade. Somente em 1300 haverá paz com a intervenção do papa Bonifácio VIII, que limitou os privilégios dos mendicantes. De qualquer forma, na Idade Média, as Ordens Mendicantes conhecem um florescimento notável, ultrapassando em preponderância social, cultural e política, para além do número de efetivos, as Ordens Monásticas, tradicionais e fechadas, que conhecem então uma certa estagnação. Desde o Concílio de Trento (1545-1563), a maior parte das Ordens Mendicantes, e ainda que se mantenham ramos de estrita observância e pobreza absoluta no seio de algumas, é autorizada a possuir bens comuns, o que implica não viver exclusivamente da caridade pública, forma de vida desadequada ao século XVI. Os tempos de Contrarreforma implicavam uma maior capacidade de resposta das instituições católicas, entre as quais sobressaíam as Ordens Mendicantes, de grande utilidade apostólica e evangelizadora. Nestas tarefas incluía-se o esforço de missionação em que cada vez mais se envolviam, mercê dos grandes impérios coloniais que se desenhavam no século XVI. Daí a necessidade de possuirem bens comuns que gerassem rendas para suportar todo esse conjunto de atribuições que se lhes afiguravam. O Código de Direito Canónico reconhece-lhes, porém, o seu estatuto original e concede-lhes o direito de pedir esmola na diocese a que pertence a comunidade. Originalmente itinerantes, os mendicantes foram-se gradualmente fixando em conventos, comunidades estabilizadas donde irradiavam para as suas ações apostólicas ou demais incumbências pastorais e caritativas. Muitas vezes denominam-se as suas casas, erradamente, mosteiros ou abadias, termos ligados às Ordens Monásticas. A centralização das Ordens Mendicantes é outra das suas características marcantes, com uma organização em províncias, à frente das quais se encontra um superior (dito provincial). No governo de cada Ordem existe um superior geral, eleito em capítulo geral em intervalos de tempo variáveis segundo o instituto religioso e seus estatutos. Após os abalos profundos sofridos na Revolução Francesa e no século XIX, com a diminuição do número de efetivos, o desaparecimento de províncias e comunidades inteiras, as perseguições e projetos nacionais de laicização, e após uma fase de renascimento em finais da década passada, as Ordens Mendicantes encontram-se, hoje em dia, implantadas em todas as regiões do Mundo, apesar de conhecerem uma certa estagnação no seu crescimento. A sua atividade missionária, educacional, pastoral e científica é notável, constituindo-se como um dos baluartes do mundo católico da atualidade, possuindo, igualmente, um inigualável número de santos e beatos, sendo alguns deles dos mais cultuados e famosos entre todos, como S. Francisco, Sto. António, S. Domingos, Santa Teresa de Ávila.

ORDENS RELIGIOSAS MILITARES

Ordens religiosas militares
 Monges guerreiros das Ordens dos Templários,
dos Hospitalários,
 de Santiago
e de Avis ou Calatrava.

As ordens religiosas e militares remontam à Idade Média, ao tempo das cruzadas, na sequência da tomada de Constantinopla, pelos Turcos, em finais do século XI, e da violência a que estes sujeitaram os peregrinos que se dirigiam à Terra Santa. Tiveram a missão de defenderem os lugares santos do Cristianismo, de protegerem e assistirem as populações e peregrinos e de colonizarem as terras conquistadas aos seguidores do Islão.
Após o decreto do Papa Urbano II (de 1088 a 1099), no Concílio de Clermont, da conquista da Palestina, surgem as cruzadas com cerca de seiscentos mil fiéis que, em nome da religião católica, formam um exército monástico-militar, que parte em direção a Constantinopla e, depois de dominar Niceia e Antioquia, consegue tomar Jerusalém. Em 1099, Godofredo de Bulhão é eleito defensor do Santo Sepulcro e alguns cavaleiros cruzados impulsionam aí uma albergaria ou hospital que desde 1048 recebia e apoiava os peregrinos. São estes que dão origem à primeira Ordem Militar, a Ordem dos Hospitalários ou de São João de Jerusalém, mais tarde conhecida também como de Rhodes ou de Malta. Nove cavaleiros que se albergaram numa parte do Templo de Salomão formaram a Ordem dos Cavaleiros do Templo, ou Templários.
Ordem dos Hospitalários ou de S. João de Jerusalém - começou por ser uma casa religiosa de recolha de peregrinos em Jerusalém, fundada em 1048. Pouco tempo depois, foi erigido junto a esta casa um hospital com capela própria. Em 1113, o papa Pascoal II mandou erigir a congregação, sob o nome de S. João, e deu-lhe regra própria. Em 1120 o Grão-mestre da congregação, Raimundo de Puy, acrescentou, para além dos cuidados com os doentes, o serviço militar. Após a queda de Jerusalém (1187) e de Acre (1291), às mãos dos muçulmanos, os Hospitalários têm de abandonar a Palestina, instalando-se, em 1312, na Ilha de Rhodes. Passou a chamar-se Ordem de Malta, a partir de 1530, ao estabelecer-se na ilha do mesmo nome, que passou a ser a sua sede. Esta Ordem entrou em Portugal no início do século XII, por volta de 1122 e 1128. No entanto, só tem importância militar em Portugal no último quartel do século XII. Em 1194, D. Sancho I doou-lhes a terra de Guindintesta para aí construírem um castelo a que pôs o nome de Belver. D. Sancho II doou-lhes, em 1232, as terras do Crato. O grão-mestre desta Ordem passou, a partir de 1340, a ser designado por prior do Crato, por aí se situar a sede da Ordem.
Ordem dos Templários ou dos Cavaleiros do Templo ou Ordem de Cristo - inicialmente intitulada milícia dos Pobres Cavaleiros de Cristo, é fundada por nove cavaleiros, chefiados por Hugo de Payem. Mas é S. Bernardo quem faz a sua propaganda no ocidente e consegue o apoio da Igreja. Depois de, em finais do século XIII, a ordem do Templo ter abandonado o Próximo Oriente, visto estar aí já extinto o domínio cristão, todos os seus seguidores regressaram aos países de origem. Só na Península Ibérica se mantinham as condições para que a Ordem mantivesse as atividades para que fora criada: a luta contra os muçulmanos. Por ser muito poderosa economicamente, a ela recorrendo os reis e senhores quando em dificuldades financeiras, tornou-se para eles uma ameaça a anular. Filipe-o-Belo, rei de França, foi um dos líderes da campanha que levou ao desaparecimento desta Ordem. Foi extinta em 1312, por ordem do papa Clemente V, que determinou a passagem dos seus bens para a Ordem dos Hospitalários, com exceção dos reinos peninsulares. Em Portugal, D. Dinis procurou junto de Roma a criação de uma nova Ordem, a dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo, que foi instaurada por bula de João XXII em 1319. Esta Ordem, com regra beneditina, recebeu todos os bens que eram da Ordem do Templo, tendo sido sediada em Castro Marim (zona de fronteira com os Mouros); em 1357 a sede foi transferida para Tomar. Foi de reconhecida importância o seu papel nas conquistas e na expansão ultramarina, sobretudo pela ação do seu administrador, D. Henrique.
Outras ordens simultaneamente religiosas e militares aparecem como necessidade de defesa contra os mouros e dos peregrinos que se dirigem aos diversos locais de devoção. Estão neste caso a Ordem de Calatrava e a Ordem de Santiago da Espada.
A Ordem de Calatrava - fundada por S. Raimundo, surgiu para defender a cidade fronteiriça de Calatrava contra os ataques dos mouros. Confirmada em 1164 pelo Papa Alexandre III, estabelece-se, também em Portugal, com sede em Évora. Depois recebe como doação diversas localidades, incluindo Avis, passando os "Freires de Évora" a serem conhecidos por "Freires de Avis". No entanto, sem data precisa, aparece a Ordem de Avis independente da de Calatrava.
Ordem de Avis - a data da criação desta Ordem é desconhecida, mas, tal como as suas congéneres, terá começado por uma associação de cavaleiros com o objetivo de combater os muçulmanos, por meados do século XII. No reinado de D. Afonso Henriques existia uma associação com o nome de Freire de Évora, integrada na Ordem de Calatrava de Castela, que recebeu do rei a doação de diversos castelos expostos aos ataques dos mouros. Em 1211, D. Afonso II doou a estes freires o lugar de Avis que, mais tarde, viria a ser a sua sede. Esta Ordem seguia a regra beneditina, o hábito tinha uma cruz vermelha florenciada e na sua bandeira figuravam também duas aves. A independência da Ordem em relação a Calatrava ter-se-á dado no reinado de D. João I e, nesta altura, a cruz passou a ser verde. As dignidades da Ordem eram: Mestre, Comendador-mor, Chaveiro, Alferes-mor e Sacristão-mor. Possuía, no início do século XVIII, terras no Alto Alentejo e no Ribatejo.
A Ordem de Santiago da Espada ou simplesmente Ordem de Sant'Iago - terá começado, tal como outras, por uma pequena associação de cavaleiros para combate aos Mouros na zona de Leão. Foi oficializada por Fernando de Leão em 1170, que lhe doou dois anos mais tarde a vila de Cáceres. A Ordem rapidamente se espalhou por Castela e Portugal, onde recebeu vários castelos a sul do Tejo. Foi confirmada por bula papal em 1175. Com o avanço da reconquista para sul, o papel dos cavaleiros da Ordem foi de destaque e por isso receberam numerosos castelos, no Baixo Alentejo e Algarve. Entre estes castelos estava o de Palmela, no qual a Ordem, já independente da de Castela, se estabeleceu. A separação da Ordem de Castela foi muito contestada, apesar de deferida por bula do papa Nicolau IV de 1288. Depois disto vários documentos pontifícios confirmaram e anularam a separação. Esta, no entanto, manteve-se, e só foi confirmada definitivamente em 1452, por bula do papa Nicolau V. Os seus estatutos foram publicados em 1509, 1542 e 1548. A sua bandeira principal era vermelha com cruz de braços iguais florenciada e, mais tarde, passou a ter como único símbolo a cruz em forma de espada.
Em Portugal, as ordens religiosas militares foram extintas a 30 de junho de 1834, por um diploma que tornou aplicável às ordens militares o decreto, de 30 de maio do mesmo ano, que extinguiu os conventos religiosos.
Nos séculos X e XI não surgiram só as ordens religiosas e militares, mas também várias ordens religiosas com missões de apoio, ensino, missionação e assistência dos desfavorecidos, como a Ordem dos Beneditinos, a Ordem de Cluny ou a Ordem de Cister. Estas ordens religiosas são diversas, embora as masculinas se costumem agrupar em Cónegos Regrantes, Ordens Monásticas, Ordens Mendicantes e Clérigos Regulares; e as femininas, dependendo ou não de uma ordem masculina (1.ª Ordem) se designem em Segunda Ordem ou Ordens Terceiras.

AS CRUZADAS

As Cruzadas
Mapa das Cruzadas

Designação pela qual são conhecidas as expedições operadas pelos cristãos da Europa Ocidental entre os séculos XI e XIII, com o intuito de retomarem a posse de Jerusalém e dos Lugares Santos, caídos no século VII em poder dos muçulmanos. A segurança das rotas de peregrinação estava também intimamente relacionada com estas campanhas da Cristandade. Foram oito as Cruzadas, quase sempre com apoio papal, embora tenham ocorrido outras ações bélicas similares de menor impacto e dimensão.

Antecedentes

A partir de 636, Jerusalém era uma cidade em poder dos Muçulmanos. Estes, apesar de a terem conquistado em verdadeiro espírito de Jihâd (guerra santa, um dos pilares fundamentais da religião islâmica), foram tolerantes para com os cristãos, permitindo as peregrinações aos Lugares Santos da Palestina. Todavia, um outro perigo, também muçulmano, estava eminente: os turcos Seldjúcidas, descendentes de belicosas e aguerridas tribos nómadas da Ásia Central. Instalados na Anatólia, fazem desde logo perigar a segurança do Império Bizantino, sediado em Bizâncio, às portas dos Seldjúcidas. Estes, em 1071, derrotam os bizantinos na batalha de Manzinkert, impelindo o imperador Miguel VII a solicitar o apoio de Roma para que interpelasse os soberanos ocidentais a enviar exércitos em auxílio de Bizâncio. Jerusalém é conquistada pelos Turcos em 1078, o que aumentou ainda mais o pavor no Ocidente e o alarmismo das súplicas bizantinas. Em 1085, cai Antioquia e em 1092 Niceia. Um outro pedido de auxílio é reiterado em 1095 por Aleixo I Comneno ao Papa Urbano II. Apesar de os cristãos bizantinos estarem afastados de Roma, esta, tentando talvez a reconciliação com o mundo cristão, terá acedido aos apelos de socorro e lançado as sementes das Cruzadas enquanto ajuda a "irmãos" ameaçados pelos Infiéis - designação medieval dada aos povos seguidores de Maomé.
Porém, esta motivação para as Cruzadas não é única nem existe por si só: está indelevelmente relacionada com diversos fatores, tendências e eventos em curso no mundo pós-ano mil. O papado tinha consciência da situação da cristandade então, quer quanto às suas maiores nações, quer quanto a aspetos meramente estruturais e absolutamente internacionais.
De facto, este período - o do apelo bizantino ao Ocidente - corresponde a uma época de aceleração demográfica, desenvolvimento comercial e relaxamento das mentalidades a nível coletivo, o que se refletiu num reflorescimento cultural no século XI. As instituições alto-medievais começavam a mudar lentamente, ainda que o feudalismo imperasse, proliferando por isso tensões e guerras mesmo entre senhores ou reis. A insegurança maior, porém, estava então em nítido desaparecimento, assinalada pelo fim das incursões e ameaças de Normandos e Magiares. Esta tranquilização crescente da Europa era visível também na estabilização e reanimação das rotas mediterrânicas. Nesse contexto de calmia, as cidades renasciam e ganhavam uma nova atmosfera, animada pelo bulício de um comércio renascente e cada vez mais transeuropeu, feito em distâncias cada vez maiores, criando riquezas e grupos de cidadãos detentores de enormes fortunas, ainda que sem títulos senhoriais: a burguesia, em busca de um lugar na política europeia. Socialmente, o crescimento populacional deixava inúmeros jovens sem ocupação, principalmente muitos "filhos segundos" da nobreza, sem heranças compatíveis e por isso ávidos de aventura em busca de riquezas e poder.
Regionalmente, havia ainda situações menos claras ou mais agitadas. A Inglaterra estava ainda na "ressaca" dos efeitos geopolíticos da conquista normanda de 1066, à procura de um equilíbrio nacional, enquanto a Alemanha do Sacro Império se envolvia em questões acerca do poder temporal e espiritual com Roma, para além de lutas intestinas contínuas. A Península Ibérica, essa, estava mergulhada ainda no processo de Reconquista Cristã, então numa fase fulgurante e de clara definição política e territorial dos novos estados cristãos. Apenas a França política e militarmente estava em condições de poder intervir no exterior, como o fez na Espanha, por exemplo. A Itália, mosaico de cidades-estados comerciais e pequenos reinos, interessava-se mais pelos "grossos cabedais" do trato mediterrânico, mostrando-se sensível com o problema da Palestina. A disputa do Mediterrâneo entre cristãos e muçulmanos era outra tónica em crescendo na cristandade.
Era também o tempo da reforma gregoriana, da "explosão" cultural e irradiação de Cluny, do renascimento e de uma certa reforma dos valores cristãos antigos. A expansão religiosa, face aos poderes acumulados pelo papado, era agora possível, ainda para mais com o mundo islâmico em fase de instabilidade causada pelos turcos. Existia, a nível religioso, na cristandade, um enorme zelo pelas peregrinações e proteção dos "lugares santos" da cristandade, desde Santiago a Jerusalém. No Concílio de Clermont de 1095, as peregrinações a esta passavam a estar também sob a alçada de Roma, exortando-se os cristãos a protegerem os que rumavam àquele lugar, bem como se apelava para levantar uma campanha contra os Infiéis, à imagem do que se fazia na Espanha. O sentimento religioso era também muito forte e arreigado nas populações, fortalecido pelos temores milenaristas, que impeliram muitos cristãos para o Oriente em busca dos "lugares santos" e relíquias, onde se acreditava chegaria o último rei cristão seguido dos últimos fiéis, para ali aguardarem o Juízo Final. É neste conjunto de situações, tendências e factos que a Europa cristã se lança na recuperação do berço da cristandade.

Primeira Cruzada (1096-1099)

Em 1095, o Concílio de Clermont decreta a concessão de perdão de todos os pecados - indulgência plenária - a todos os que fossem ao Oriente defender os peregrinos, cujas viagens envolviam cada vez maiores riscos. Com uma receção entusiástica na Europa, aos gritos de "Deus o quer", as populações enchem-se de fervor e aderem àquela medida papal, nomeadamente a França. Em França, são inúmeros os que, oriundos de vários "grupos sociais", envergam desde logo um traje com uma enorme cruz (daí cruzados) e que se colocam ao serviço da Igreja para rumarem ao Oriente. Muitos venderam ou hipotecaram mesmo os seus bens para adquirirem armas para o efeito e obterem dinheiro para a viagem.
Entre os mais humildes, formou-se mesmo uma "cruzada do povo", congregada em torno de Pedro, o Eremita, exortador da mesma. Atravessaram a Hungria e a Bulgária, causando desordens e desacatos, sendo em parte aniquilados pelos búlgaros e depois dizimados pelos turcos em 1096. Outros grupos, como os alemães, que aproveitaram para massacrar judeus, foram proibidos de cruzar nas fronteiras bizantinas.
Em termos de exércitos organizados, existiam quatro grupos. Um sob o comando de Hugo de Vermandois, irmão do rei francês, Filipe I, que partiu em 1096. Parte deste grupo naufragou no Adriático, enquanto os restantes, comandados por Godofredo de Bolhão, duque da Baixa Lorena, e por seus irmãos Eustáquio e Balduíno, atingiram Constantinopla em dezembro. O segundo grupo era comandado por Boemundo de Tarento, normando do Sul de Itália, velho inimigo de Bizâncio. Chega a Constantinopla em abril de 1097. O mais numeroso dos exércitos era o de Raimundo de Saint-Gilles, conde de Toulouse, acompanhado de Ademar de Monteil, legado do Papa e bispo de Puy. Chegaram a Constantinopla em abril do mesmo ano, vindos pela Dalmácia (atual costa croata). O quarto e último contingente, sob as ordens de Roberto da Flandres, a par de Roberto da Normandia, irmão de Guilherme II de Inglaterra, bem como Estêvão de Blois, chegou também à capital bizantina. Ao todo, reúnem-se perto de 30 mil cruzados em Constantinopla, dos quais cerca de 25 mil combatentes a pé. Concordam todos em tomar a Palestina aos Turcos e depois devolver os seus territórios ao imperador bizantino, autor desta exigência.
Assim, em 19 de junho de 1097 os cruzados tomam Niceia, chegando aos arredores de Antioquia em 20 de outubro, não sem recontros duros com os turcos pelo caminho. Esta cidade, todavia, dotada de altas muralhas e muito bem defendida, somente cairá a 3 de junho de 1098, após o extermínio da sua população islâmica. Mais tarde, depois de nova vitória contra os turcos, os cristãos ver-se-ão a braços com uma peste mortífera, que contudo não os impedirá de marchar sobre Jerusalém, agora em poder dos califas fatímidas do Cairo. Com poucas armas e provisões, os cerca de 1200 cavaleiros e 12 mil soldados cruzados começam os ataques à cidade em 15 de julho de 1099, sob o comando de Godofredo de Bolhão, que chegou mesmo a abrir uma das portas da muralha. Neste mesmo ano, conseguem tomar Jerusalém, empreendendo posteriormente a chacina de grande parte da sua população judaica e muçulmana, entre homens, mulheres e crianças.
A maior parte dos cruzados regressaram à Europa, contrariamente a Godofredo, que ficou em Jerusalém, onde foi aclamado pelos cristãos como governador e defensor do Santo Sepulcro, contrariamente às promessas feitas ao imperador bizantino. Ainda na sequência desta primeira Cruzada, criar-se-á, em meados do século XII, o reino cristão de Jerusalém, o primeiro dos instalados na Terra Santa, fundando-se igualmente os condados de Edessa e Trípolis e o principado de Antioquia. Instalam-se também nesta altura as Ordens Religiosas Militares para defesa dos lugares conquistados pelos cristãos: Hospitalários (1113) e Templários (1118). Os estados latinos da Terra Santa ganham também notoriedade económica, o que desvirtua o projeto das Cruzadas e faz despontar rivalidades violentas, vulnerabilizando a região face ao ressurgimento de estados muçulmanos vizinhos, como o de Mossul, que se estava a instalar na Síria.

Segunda Cruzada (1147-1149)

Em 1144, de facto, os senhores de Mossul, numa fase de reunificação da Síria, conquistaram Edessa aos cristãos. Na Europa, imediatamente se ouvem vozes clamando pela retoma do condado pelos cruzados. É o caso de São Bernardo de Claraval, que, a pedido do Papa Eugénio III, antigo monge cisterciense e discípulo do Santo, lhe pede que exorte os cristãos a empreenderem uma nova cruzada. Na Páscoa de 1146, em Vezelay, são muitos os franceses que acorrem a escutar as palavras de Bernardo. Estas serão levadas à prática pelo imperador germânico Conrado III e por Luís VII da França, para além dos reis da Polóna e da Boémia. O imperador parte para Constantinopla, onde chega em setembro de 1147. Contrariando os conselhos do soberano bizantino Manuel I, os cruzados avançam para a Anatólia, onde são batidos pelos turcos em Dorileia, em outubro desse mesmo ano. Luís VII ainda acorre em seu auxílio, encontrando Conrado em Niceia. Os franceses, entretanto, chegam a Antioquia em março de 1148, rumando para Jerusalém com cerca de 50 mil soldados. Decidem atacar Damasco. Em 28 de julho de 1148, e depois de cinco dias de cerco, concluíram tratar-se de uma missão impossível pelo que recuaram, terminando assim a segunda cruzada. Um autêntico malogro, com os seus líderes a regressarem aos seus países sem qualquer vitória. Porém, recorde-se que será desta cruzada que irão sair alguns cruzados para auxiliarem Afonso Henriques na conquista de Lisboa em 1147, como relata nas suas cartas o cruzado inglês Osberno.

Terceira cruzada (1189-1192)

Acossados por graves lutas internas e ataques dos maometanos ao longo de 25 anos depois da segunda cruzada, os estados cristãos do Oriente mergulharam numa situação política e militar difícil. Inversamente, em termos económicos e patrimoniais, conheceram uma época de desenvolvimento, principalmente no respeitante aos Templários e Hospitalários. O regime feudal difundia-se também, a par da miscigenação entre os vários povos europeus ali estabelecidos e da gradual latinização da Igreja. Este clima, no entanto, acicatou disputas entre os estados e os próprios cristãos. Outro perigo espreitava: Saladino. Este apoderou-se de Jerusalém em 1187, o que desencadeou na cristandade uma nova onda de preocupação com a Terra Santa. O Papa Gregório VIII lança imediatamente uma nova cruzada, com o apoio de vários monarcas, entre os quais o imperador germânico Frederico I, o Barba-Roxa, Filipe Augusto de França, Henrique II de Inglaterra (depois substituído pelo seu sucessor, Ricardo I, Coração de Leão) e Guilherme II da Sicília.
Em abril de 1191 os franceses alcançam Acre, no litoral da Terra Santa, e dois meses depois junta-se-lhes Ricardo. Ao fim de um mês de assédio, os cruzados tomam a praça e rumam para Jerusalém, agora sem o rei francês, que regressara ao seu país. Os cruzados, entretanto, vencem em Arsuf e retomam Jaffa, sob o comando de Ricardo, mas não conseguem tomar Jerusalém. Entretanto já o rei inglês tinha voltado para a Europa, o que faz terminar a cruzada que, apesar de ter ficado às portas de Jerusalém, acabou por fortalecer a soberania dos estados latinos da Terra Santa.

Quarta cruzada (1202-1204)

A partir de 1198 o Papa Inocêncio III começou a incitar a cristandade para empreender um novo esforço de cruzada, tendo tido bastante recetividade junto da nobreza europeia. O prestígio e capacidade de legislação e de organização eram apanágio deste papa, o que fazia recair sobre o seu pontificado uma enorme aura de confiança popular. O transporte dos exércitos fez-se a partir de Veneza e dos seus barcos, república comercial que então vivia numa tensão crescente com Constantinopla. Depois do massacre de mercadores daquela cidade italiana em 1182 devido aos privilégios comerciais que detinham. Se por um lado a pretensão papal desta cruzada apontava para a destruição do poderio muçulmano no Egito, por outro a tensão entre Veneza e os bizantinos acabaria por influenciar o decurso das operações militares, cujos objetivos se centravam cada vez mais em Constantinopla, devido à intenção veneziana de vingar o massacre dos seus mercadores. Além disso, o Egito mantinha boas relações a todos os níveis com Veneza.
Perante esta situação, e debatendo-se com dificuldades financeiras para pagar a travessia dos barcos e exércitos para o Egito (Veneza exigia 85 mil marcos de ouro), os venezianos negociaram com os chefes cruzados um ataque a Zara, cidade na costa da Dalmácia antes em poder de Veneza. Esta cidade, efetivamente, veio a cair no poder das hostes cristãs em 1202, contra a vontade de Inocêncio III, que condenava veementemente a secularização da quarta cruzada e excomungou mesmo os venezianos. Por outro lado, na sequência desta operação militar, os cruzados, em 1203, tomam Constantinopla e coroam Aleixo IV como imperador bizantino, a par de seu pai, Isaac Ângelo. Inocêncio III aceita a situação, sonhando com a reaproximação entre as duas Igrejas desavindas. Contudo, Aleixo será assassinado pelos gregos, o que impele Veneza a tomar o poder no Bósforo. Para tal, contaram com o apoio dos cruzados, que em abril de 1204 assaltaram de novo Constantinopla, submetendo-a a três dias de massacres e pilhagens, dividindo depois os despojos. Apesar de enfraquecido, o império bizantino não desvaneceu, retomando a sua pujança em 1261, quando Miguel VIII, paleólogo, toma o poder. Entretanto, os cruzados tinham estabelecido uma série de principados latinos na Grécia, como o ducado de Atenas.
A trégua assinada por Ricardo Coração de Leão em 1191 mantinha-se, apesar da despropositada e desastrosa quarta cruzada, em pleno século XIII, assegurando a manutenção dos estados latinos do Levante (Arménia, Jerusalém-Acre, Trípoli, Chipre) e dos próprios cruzados.
Posteriormente a esta quarta cruzada, desencadeou-se uma série de movimentos de tipo "cruzada" de carácter espontâneo na Europa a caminho da Terra Santa, como a denominada "cruzada das crianças", em 1212, composta maioritariamente por jovens franceses ou alemães. Esta triste caminhada de inocentes redundou numa tragédia inimaginável: uns morreram à fome e de esgotamento, outros foram assassinados, afogados no mar ou, então, acabaram vendidos como escravos.

Quinta Cruzada (1215-1221)

Também da iniciativa de Inocêncio III, que a propõe em 1215 no quarto Concílio de Latrão, mas somente posta em prática por Honório III, seu sucessor no trono de S. Pedro. Organizada pelo imperador germânico Frederico II, pôs-se a caminho em 1218, comandada por Jean de Brienne, rei em título de Jerusalém, e Leopoldo VI, duque da Áustria. O objetivo era o Egito, mas apenas acabaram por assaltar Damieta, sendo rechaçados no delta do Nilo. Querelas internas minaram igualmente esta cruzada. Porém, numa paz negociada em 1219 com os muçulmanos, o incrível aconteceria: Jerusalém era oferecida aos cristãos, entre outras cidades, em troca da sua retirada do Egito. Mas os chefes cruzados, nomeadamente o cardeal Pelágio, recusaram tal oferta, objetivo máximo da Cristandade: consideravam que os muçulmanos não conseguiriam resistir aos cruzados quando chegasse Frederico II com os seus exércitos. Em 1219 Damieta caiu na posse dos cruzados, que falham depois o Cairo. O imperador atrasara-se, e a cruzada fracassava, assinando-se depois uma trégua de oito anos. Foi a última cruzada em que intervieram tropas do Papa.

Sexta Cruzada (1228-1229)

Lançada pelo imperador excomungado Frederico II em 1227, só no ano seguinte esta cruzada ganharia forma. A sua demora em avançar na empresa deve-se à excomunhão por Gregório IX. De facto, ao partir para reclamar os seus direitos sobre Acre-Jerusalém e Chipre, Frederico II recebeu uma missão de paz do sultão do Egito, que retardou o seu avanço. Finalmente, em 1228, acabou por partir, apesar de ser defensor do diálogo com o Islão, religião que o apaixonava sobremaneira, e preferir conversar em vez de combater. Todavia, e apesar do seu humanismo, não conseguiu evitar a excomunhão, o que frustrou as suas pretensões naquelas paragens levantinas. Conseguiu, com o apoio dos cavaleiros teutónicos e de algumas tropas suas, selar um bom acordo com o Egito de Malik el-Kamil, sobrinho de Saladino, em 1229: Jerusalém ganhava Belém, Nazaré e Sídon, um corredor para o mar, para além de uma trégua de dez anos. Coroado rei de Jerusalém, Frederico regressou à Europa e retomou relações com Roma em 1230. Mas a Cidade Santa acabaria por cair entretanto em 1244 novamente em poder do Islão.

Sétima Cruzada (1248-1254)

Findos os dez anos da trégua de 1229, uma expedição militar cristã encaminhou-se para a Terra Santa, a fim de reforçar a presença cristã nos lugares santos. Mas, todavia, Jerusalém seria retomada pelos muçulmanos em 1244 e no ano seguinte dava-se o desastre de Gaza. Uma nova empresa militar cruzada dirige-se então contra o Egito, comandada por S. Luís (XI), rei de França, que expressara ao Papa Inocêncio IV, no Concílio de Lyon, o desejo de apoiar os cristãos do Levante. Partiu de Aigues-Mortes em 1248, desta feita com um respeitável exército de 35 mil homens. Escalou em Chipre em setembro de 1248, atacando depois o Egito. Aqui, retoma Damieta em junho de 1249 e quase conquista o Cairo em 1250, só não o conseguindo porque os muçulmanos se apoderaram das provisões alimentares dos cruzados, o que provocou fome e doenças nas hostes de S. Luís. Obrigado a retirar-se perante este cenário, o rei chegou mesmo a ser feito refém, sendo posteriormente libertado após o pagamento de um avultado resgate e restituição de Damieta, em 1250. Todavia, só abandonaria a Palestina em 1254, depois de conseguir recuperar todos os prisioneiros cristãos e de ter concluído um esforço de fortificação das cidades francas do Levante.

Oitava Cruzada (1270)

Entre 1265 e 1268, os egípcios mamelucos conquistaram uma série de territórios cristãos no litoral da Palestina e do Líbano, como Haifa ou Antioquia, para além da Galileia e da Arménia. Luís IX de França, ou S. Luís, retomou então o espírito das cruzada e lançou novo empreendimento armado em 1270, embora sem grande percussão na Europa. Os objetivos eram agora diferentes dos projetos anteriores: geograficamente, o teatro de operações não era o Levante mas antes Tunes, e o propósito, mais que militar, era a conversão do emir da mesma cidade norte-africana. Redundou, todavia, como quase todas as outras expedições, numa tragédia. Não chegaram sequer a ter oportunidade de combater: mal desembarcaram as forças francesas em Tunes, logo foram acometidas por uma peste que assolava a região, ceifando inúmeras vidas entre os cristãos, nomeadamente S. Luís e um dos seus filhos.

Os estados europeus do Levante ficavam assim entregues ao seu próprio destino e à mercê dos muçulmanos, principalmente dos turcos e dos mamelucos egípcios. A tolerância até então evidenciada pelos muçulmanos em relação aos cristãos esmoreceu e desapareceu, despertando novamente a ideia de guerra santa entre os seguidores de Maomé, depois de tantas agressões cristãs, fazendo cair uma a uma as possessões latinas do Levante. Economicamente, as cidades mercantis italianas (Génova e Veneza, principalmente) passaram ao lado da tragédia das cruzadas, aumentando o seu tráfico - e respetivos lucros - no Mediterrâneo oriental. Na Europa, por outro lado, as monarquias saíram reforçadas, pois muitas famílias nobres do Velho Continente perderam filhos e herdeiros na Terra Santa ou endividaram-se de tal modo que o seu poder se esfumou, contribuindo também para uma emancipação do poder popular e local, agora desagrilhoados das peias e amarras do feudalismo derrotado no Oriente. No século XIV, e como reflexo do fracasso das cruzadas e da sua retirada da Síria e Palestina, desaparecerá também uma das instituições basilares do mundo latino do Oriente: os Templários.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

CRESCIMENTO ENTRE O SÉCULO XI A XIII

A prosperidade dos séculos XI a XIII teve por base o desenvolvimento agrícola, graças a:
-Expansão da área cultivada (arroteamentos pela acção conjunta de camponeses, monarcas, senhores nobres e ordens monásticas (por exemplo, os cistercienses) – a floresta, que cobria grande parte do ocidente europeu, foi reduzida em favor dos campos arados.
-progressos técnicos, tais como: a substituição da madeira pelo ferro nas alfaias agrícolas, o melhor aproveitamento da força animal (através da coelheira rígida e a atrelagem em fila), a rotação trienal de culturas (que deixava apenas um terço da terra em pousio contra metade do afolhamento bienal) e a fertilização dos campos (com manga, cinza e estrume animal).
A prosperidade agrícola resultou num crescimento demográfico: a existência de maiores recursos alimentares fez recuar as fomes e, consequentemente, as epidemias, proporcionando a duplicação da população da Europa entre os séculos XI e XIII.

Os pólos mais dinâmicos da economia europeia
A FLANDRES – as cidades de Gand,Ypres, Bruges, Donai, eram grandes centros manufactureiros especializados na produção de lanifícios. Graças à sua localização geográfica estratégica bem como à força da sua industria, a Flandres não só exportava os seus panos mas também atraía comerciantes oriundos das mais diversas partes da Europa. Bruges era, então, o local mais cosmopolita da Europa. Deste modo, graças à associação entre a indústria e o comércio, a Flandres tornou-se um dos pólos económicos mais importantes da economia europeia.
A HANSA cerca de 90 cidades do mar do Norte e do mar Báltico associaram-se, no século XI, para garantir o monopólio do comércio nessas regiões e proteger os seus comerciantes, criando a chamada Hansa Teutónica. As principais cidades da Hansa eram Hamburgo, Dantzig, Riga, Colónia e sobretudo, Lubeque.
As CIDADES ITALIANAS os italianos, não constituindo um Estado unificado, desenvolviam o comércio apoiado nas diferentes cidades, rivais entre si apesar de partilharem a mesma língua.
Génova e Veneza, nomeadamente, competiam pelas rotas do Mediterrâneo, trazendo do Oriente, entre outros produtos, as lucrativas especiarias. O poderio comercial destas cidades, muito antigo e aumentado desde a primeira cruzada (1095), a qual fez recuar a influência muçulmana, só viria a ser destronado aquando da descoberta do caminho marítimo para a Índia, pelos Portugueses (século XV).
As FEIRAS DA CHAMPAGNE – realizadas nas cidades de Lagny, Bas-sur-Auby, Provins e Troyes, foram as mais importantes de todas as feiras medievais. A sua localização geográfica, ligando o Norte flamengo e o Sul italiano, e as regalias que, os reis e os senhores ofereciam aos viajantes (alojamento, armanezamento, isenção de impostos e segurança), atraíam mercadores (e, com estes, produtos) de toda a Europa.
ROTAS
Rotas HANSEÁTICAS
Rotas ITALIANAS
Rotas terrestres das CIDADES FLAMENGAS

DESENVOLVIMENTO FINANCEIRO
O Cobrador de Impostos (Pieter Brueghel II)

As primeiras actividades bancárias nasceram na Idade Média, graças aos cambistas ou banqueiros que desenvolveram formas mais fáceis e seguras de comerciar:
-Os CÂMBIOS –eram uma necessidade constante numa economia de mercado que manuseava moedas de valores tão dispares como o florim (Florença), o ducado (Veneza) ou o tari (moeda muçulmana).
-Os SEGUROS- qualquer viagem, marítima ou terrestre, envolvia enormes riscos. Tornou-se essencial que os mercadores segurassem as mercadorias, contra o pagamento de uma parte do seu valor.
-Os CHEQUES e as LETRAS DE CÂMBIO- permitiam substituir o transporte de dinheiro vivo, fazendo operações de pagamento em papel.
-As SOCIEDADES COMERCIAIS- permitiam reunir capital a uma escala que os particulares dificilmente poderiam ter acesso e, da mesma forma, repartir os lucros do negócio.

A CRISE DO SÉCULO XIV

Triunfo da Morte,
 de Pieter Bruegel, o Velho (1526/1530-1569)
Ao longo da Idade Média, o contingente populacional foi-se adaptando às subsistências disponíveis.
Assim, em períodos de bons anos agrícolas (como aconteceu, frequentemente, entre os séculos XI e XIII), a população crescia ligeiramente, graças a uma taxa de natalidade superior à, também elevada, taxa de mortalidade.
No entanto, em épocas de más colheitas (século XIV), o preço dos cereais, que constituíam a base de alimentação, subia de imediato, arrastando as tão temidas fomes e, com estas, as doenças.
A mortalidade atingia, em primeiro lugar, as crianças até um ano de idade, por serem as mais vulneráveis e por se desconhecer quase na totalidade quais os cuidados adequados a prestar a esta faixa etária (em termos de alimentação, higiene, vestuário, cuidados médicos).
Se juntarmos ao problema da escassez de recursos e ás epidemias as guerras, obtemos a conhecida “trilogia negra” que caracterizou o século XIV (na verdade o período entre 1330 e 1450).
FOME:- enquanto no século XIII a população aumentou no Ocidente, no século XIV tornou-se impossível alimentá-la, em virtude dos maus anos climatéricos (chuva e frio) e do esgotamento dos solos.
PESTE:- a mais conhecida, a peste bubónica (peste negra), ceifou um terço da população europeia entre os anos de 1348 e de 1350. Os mercadores genoveses espalharam a doença.
A peste horrorizou os seus contemporâneos, não só pelo seu aspecto visual (os doentes apresentavam bubões – tumores – negros ou azulados nas virilhas, axilas e pescoço) mas também pela facilidade de contágio, que os médicos procuravam combater, sem sucesso, pois desconheciam que a transmissão da doença se fazia pela picada da pulga e pelo ar respirável.
GUERRA:- o século XIV foi pródigo em guerras (entre as quais se destaca a Guerra dos Cem Anos) e em revoltas sociais (por exemplo, a revolta de 1383-85, em Portugal). No entanto, não era nos campos de batalha que se produzia o maior número de mortos: a violência que acompanhava a passagem de tropas (amigas ou inimigas) por cidades e campos, bem como a desorganização económica que resultava dos conflitos produziam efeitos mais devastadores.

A CIDADE MEDIEVAL

CIDADE MEDIEVAL
Carcassone, a cidade medieval ...

A cidade medieval da Europa ocidental era, em geral, uma cidade pequena (Paris, sendo a maior, tinha 90.000 habitantes) que se compunha dos seguintes elementos:
1. A MURALHA – a primeira característica da cidade medieval é o seu perímetro de muralhas, cujas portas, geralmente imponentes, se podiam abrir ou fechar consoante a necessidade, pois o estado de guerra quase permanente obrigava a garantir a segurança dos habitantes. A muralha desempenhava ainda outra função: a de delimitar o espaço da cidade por oposição ao espaço rural.
Devido ao aumento demográfico do século XIII, as cidades medievais rodearam-se de novas cinturas de muralhas que integraram antigos arrabaldes e zonas rurais.
2. O CENTRO – no interior das muralhas, a cidade estava organizada em torno de um ou de diversos centros, por exemplo:
- o castelo;
-a torre de menagem do alcaide;
-a Sé catedral;
-os paços do concelho;
-o mercado;
-o porto.
Nas cidades muçulmanas, o centro, com edifícios de poder e as suas elites, tomava o nome de alcáçova.
3. As RUAS – quer na cidade cristã, quer na cidade muçulmana, os aglomerados habitacionais estendiam-se por ruas desordenadas, habitualmente estreitas, barulhentas e insalubres.
4. O ARRABALDE – no exterior das muralhas (arrabaldes) viviam os recém-chegados e os marginalizados (pedintes, leprosos que habitavam as gafarias), em vielas estreitas e insalubres (doentias)
5. O TERMO – era o espaço circundante (campos e aldeias) sob a alçada jurídica e fiscal da cidade, o que permitia a esta retirar proventos e aos aldeãos vender os seus produtos às portas da cidade.

RELAÇÕES FEUDO-VASSÁLICAS


A insegurança e o medo que se vivia na Europa durante as invasões
A incapacidade dos monarcas para protegerem os seus territórios
Como recompensa pelo auxílio militar os reis doavam grandes extensões de terra a senhores da nobreza e do clero.

CONTRATO DE VASSALAGEM
CONTRATO DE VASSALAGEM
CONTRATO DE VASSALAGEM
















Estas doações chamavam-se “feudos” que eram constituídos por terras, cargos ou direitos vitalícios
Os senhores mais poderosos concediam feudos a outros senhores que lhes pediam protecção
Levaram ao desenvolvimento de relações de dependência pessoal entre as pessoas
Dentro dos seus territórios os senhores assumiam poderes que os tornavam praticamente independentes face ao rei e tinham direitos como:
-Possuir exército privado
-Administrar a justiça
-Cobrar impostos
-Cunhar moeda
Em troca do feudo que lhes era doado os senhores assumiam um compromisso de fidelidade, obediência e auxílio militar
Os senhores mais poderosos tornavam-se assim SUSERANOS dos senhores menos poderosos, que passavam a ser seus VASSALOS.
Entre as duas partes estabelecia-se um CONTRATO de VASSALAGEM, que era acompanhado por várias cerimónias.
CONTRATO DE VASSALAGEM
1ª Cerimónia : HOMENAGEM
Em que o vassalo se submetia ao senhor
O vassalo, de joelhos, de cabeça descoberta e desarmado, colocava as suas mãos entre as mãos do senhor e comprometia-se a ser “seu homem”.
2ª Cerimónia : JURAMENTO DE FIDELIDADE
Em que o vassalo jurava, perante a Bíblia, ser fiel ao seu suserano
O vassalo, de pé, jurava solenemente, sobre a Bíblia ou relíquia de um santo, ser fiel ao seu senhor
3ª Cerimónia : INVESTIDURA
Em que o vassalo recebia do seu senhor algo que simbolizava o feudo que lhe era doado.
O senhor entregava um ramo ou porção de terra para simbolizar a entrega do feudo, que nunca deixava de ser sua propriedade.
DIREITOS E DEVERES
O Vassalo tinha os deveres de fidelidade, conselho, ajuda financeira e auxílio militar ao suserano.
O Suserano tinha os deveres de protecção, justiça e ajuda material aos seus vassalos e concessão do feudo.
O rei era o suserano dos suseranos

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

EUROPA:REINOS E SACRO IMPÉRIO ROMANO-GERMÂNICO


Sacro Império Romano-Germânico
Foi durante a Idade Média que se formaram os reinos da Europa Ocidental, prevalecendo o poder dos senhores na Europa Oriental.
—No século XIII já constituem reinos sólidos os de Portugal, Castela, Aragão, França e Inglaterra.
—Em cada um destes territórios delimitados geograficamente - em cada pátria – o chefe político era o rei, pertencente a uma família nobre que se havia destacado política e/ou militarmente.
-O SACRO IMPÉRIO ROMANO-GERMÂNICO
No século X, o rei da Germânia (alemanha) Otão I aliou-se ao Papa e, da união dos territórios germânicos e italianos nasceu o Sacro Império Romano-Germânico.
—O Sacro Império procurava restaurar a união da Europa, perdida com o fim do Império Romano, e com o fracasso do Império de Carlos Magno (imperador do Ocidente entre 800 e 843).
—Porém, a rivalidade de poder entre o imperador e o Papa, a par da oposição dos senhores locais, anularam quaisquer possibilidades de sucesso do Império.
—A Oriente, o imperador bizantino nunca reconheceu o Santo Império, considerando que era o único herdeiro do poder romano e que um chefe “bárbaro” (oriundo da Germânia) nunca deveria liderar os Cristãos.

O SENHORIO=FEUDO

SENHORIO
SENHORIO
—Era uma terra (propriedade fundiária) pertencente a um senhor nobre ou eclesiástico.
—Compunha-se, geralmente, de terras aráveis, bosques e um ou mais aglomerados populacionais.
—O proprietário (o senhor) concedia parcelas do seu terreno aos camponeses, os quais, em troca, lhe pagavam prestações em dinheiro, alimentos ou trabalho.
—Gradualmente, o poderio económico estendeu-se ao poderio sobre as pessoas.
O medo das invasões e a incapacidade por parte do monarca de assegurar uma defesa eficaz levava as populações a abrigar-se no castelo construído pelo senhor. O senhor foi-se apropriando, muitas vezes com consentimento régio, de direitos outrora exclusivos do rei (aplicar a justiça, lançar impostos, recrutar homens para o exército), até impor sobre os seus homens o ban - exercício de poderes públicos. Os senhorios mais ricos e poderosos eram aqueles pertencentes a duques e condes, membros da alta nobreza que chegaram, em alguns casos, a opor-se ao poder do rei ou do imperador de quem eram súbditos.
SENHORIO:DOMÍNIO SENHORIAL (feudo: terra do senhor:)
Dividem-se em duas partes:
1- A RESERVA (parte explorada directamente pelo senhor onde se encontravam os campos de cultivo, bosques, a casa senhorial (castelo –nobre-, mosteiro-clero), o moinho, o forno , o lagar e o celeiro
2-Os MANSOS (parcelas de terreno que o senhor entregava aos colonos que as trabalhavam, pagando em troca rendas e tributos e prestavam serviços ao senhor (nobre ou clérigo)
A SOCIEDADE SENHORIAL
Características:
TRIPARTIDA (dividida em três ordens sociais):
-CLERO
-NOBREZA
-POVO
TRIFUNCIONAL (cada ordem cumpria uma função):
-O Clero-REZAVA (protegia espiritualmente a população, dedicava-se ao ensino e à assistência a pobres e doentes;
-A Nobreza-COMBATIA (protegia físicamente a população; lutavam ao lado dos reis em tempo de guerra e, como recompensa, recebia grandes doações em terras (feudos). Os torneios e a caça eram as ocupações preferidas.
-O Povo-TRABALHAVA (pagava impostos sustentando os restantes grupos sociais- a maioria eram camponeses (dividiam-se em servos- camponeses não livres -pertencem ao senhor ou à propriedade- e colonos ou vilãos-camponeses livres- com terra arrendada)
HIERARQUIZADA
As pessoas estavam ordenadas de acordo com a sua importância social.
-Alto clero (papa, bispos e abades) -Baixo clero (padres e monges)
-Alta nobreza e Baixa nobreza.
O Clero e a Nobreza eram privilegiados porque não pagavam impostos e recebiam rendas e tributos e administravam a justiça nos seus territórios, tendo leis e tribunais próprios.
O Povo era não privilegiado
RURAL
Castelo
A maioria das pessoas viviam no campo e dedicavam-se à agricultura, habitando e trabalhando nos vastos domínios senhoriais. Estes eram grandes propriedades pertencentes a um senhor da nobreza ou do clero
Tributos e obrigações
Poder de Banus (Ban): Designa a autoridade de quem detém o poder militar, o poder de comando, de julgar e punir - geralmente os reis e depois alarga-se aos senhores.
Renda: Imposto sobre a terra (em géneros ou em dinheiro).
Corveias: Dias de trabalho gratuito nas terras do senhor por parte dos camponeses. (2 a 3 dias por semana)
Banalidades: Tributo pago pelo povo pela utilização obrigatória do moinho, lagar e forno do senhor.
Aposentadoria: Obrigatoriedade de dar abrigo e alimentação ao senhor e comitiva.
Hoste: Ajudar o exército no transporte de armas e mantimentos
Portagens: Pagamento de direito de passagem.
Dízima: Imposto pago à Igreja, correspondente a um décima do rendimento
Simonia: Compra e venda dos poderes sacramentais e dos cargos eclesiásticos