quinta-feira, 25 de agosto de 2011

LITERATURA: A ENEIDA: VIRGILIO

A ENEIDA
Composta por 12 cantos, num total de 9826 versos, a Eneida, a maior obra do poeta Virgílio (Publius Virgilius Maro, 70-19 a.C.) é considerada, simultaneamente, uma obra de tom mitológico e histórico:mitológico porque narra a história do herói Eneias, utilizando-se de lendas tradicionais do povo romano; histórico, porque utiliza este argumento para exaltar Roma e Augusto, procurando valorizar tanto os feitos do imperador quanto os feitos mais remotos do seu povo. Desta forma, o poeta conseguiu realizar a tarefa que Augusto lhe incumbira,compondo a epopeia latina por excelência, capaz de equiparar-se à Ilíada e à Odisseia, consagradas epopeias homéricas. Todavia, esta não era a única preocupação da Eneida: Virgílio procurou retratar, também,os valores e virtudes que fundamentavam a sociedade latina, fazendo,assim, uma síntese das correntes de pensamento em difusão em Roma, e as práticas religiosas que prevaleceram de 44 a.C. a 14 d. C. ? época de Augusto, considerado a de maior prosperidade para a religião romana. O argumento da obra é belíssimo e rico em detalhes. O primeiro canto ocupa-se em relatar os eventos que levaram Eneias de Tróia a Cartago.Partindo da Sicília, os navios do herói são atingidos por uma violenta tempestade provocada por Éolo, a pedido da deusa Juno; a tempestade os desviara para o norte da África e, por intervenção de Vénus, Eneias chega a Cartago, onde conhece a rainha Dido, que se apaixona por ele.No segundo canto, o herói relata todos os acontecimentos que envolveram a guerra de Tróia, desde a prisão de Sinão até à fuga de Tróia e o desaparecimento de sua esposa Creúsa. O relato termina no canto III:Eneias relata as escalas da sua viagem desde Tróia (Trácia, Delos,Estrofades, Creta, Ítaca, Sicília e Epiro) e outros acontecimentos,como o encontro com as harpias e a morte de Anquises. O quarto canto mostra o ápice da paixão de Dido, que se entrega à Eneias, e o envio de Mercúrio como emissário de Júpiter, que recomenda a Eneias que abandone Cartago e cumpra a missão pela qual ele fora destinado. O herói se consciencializa disso e abandona Dido, que o amaldiçoa e se suicida. Eneias, então, parte para a Sicília, onde realiza jogos fúnebres em homenagem ao primeiro aniversário da morte de seu pai Anquises (canto V). Em seguida, chegando em Cumas, Eneias encontra a sacerdotisa de Apolo, e ganha a permissão de entrar no mundo dos mortos. Lá, encontra Anquises, que lhe dá significativas informações sobre o futuro de Roma(canto VI). Em seguida, narra-se a chegada de Eneias à região do Tibre;o herói conhece o rei Latino, que lhe oferece a mão de sua filha, Lavínia; por isso, acaba atraindo a inimizade de Amata (a rainha) e Turno, a quem Lavínia fora prometida: é o estopim da guerra entre latinos e troianos (canto VII). Vulcano, a pedido de Vénus, forja armas para Eneias, enquanto o herói busca fazer aliança com o rei Evandro (canto VIII). Turno ataca os acampamentos dos troianos e Niso e Euríalo, dois jovens guerreiros, são mortos (canto IX). Júpiter procura estabelecer a paz entre as deusas Juno e Vénus, enquanto a guerra prossegue (canto X). Ocorre uma trégua para o sepultamento dos mortos e ambos os lados refletem sobre um possível acordo de paz, o que não acontece: os exércitos se confrontam novamente, numa das mais sangrentas batalhas (canto XI). O batalhão dos latinos esmorece, e Turno se propõe a enfrentar Eneias numa batalha corpo-a-corpo. O troiano vence o fantástico duelo e mata Turno (canto XII). Virgilio conseguiu muito mais do que pretendia com sua epopeia, valorizando os aspectos míticos disseminados em sua pátria (sintetizando, muitas vezes, fábulas gregas e latinas), relatando os principais fatos da história romana e construindo personagens dotadas de uma incrível humanidade.
Busto de Virgilio,
Parque Virgiliano,
Nápoles.

Virgílio
70 a.C., Mântua, Itália19 a.C., Roma.


Publius Vergilius Maro, ou simplesmente Virgílio como passou à história, nasceu perto de Mântua em uma família de camponeses. Estudou filosofia e retórica em Cremona, Milão e finalmente Roma, com grandes mestres, e passou a frequentar os círculos eruditos da cidade. Protegido de Mecenas, tornou-se o poeta oficial do imperador Augusto.Sua obra se compõe das "Bucólicas", uma coleção de 10 poemas inspirados na poesia pastoral grega de Téocrito de Siracusa (séc. 3 a.C.), composta provavelmente entre 42 e 38 a.C.; das quatro "Geórgicas", que fazem um elogio da Itália e tratam didaticamente de temas como a lavoura, a avicultura e a apicultura, escritas provavelmente em 29 a.C.; e finalmente da epopeia que o imortalizou, a "Eneida". Essa obra épica narra a viagem do troiano Eneias, filho de Vénus, a quem os deuses encarregaram de lançar a pedra fundamental de uma cidade que, mais tarde, seria Roma. É portanto um elogio do Império, dedicado ao imperador Augusto, e que ressalta a nobreza e a divindade das origens de Roma.Em 23 a.C., o poeta apresentou-a parcialmente à família imperial, mas morreu antes de dar ao texto todos os retoques finais. Diz a lenda que Virgílio, pouco antes de morrer, pediu aos amigos que queimassem o manuscrito do seu famoso poema, pois só assim acabaria os penosos onze anos de trabalho que lhe havia dedicado, na busca de uma perfeição inatingível.A "Eneida" é um poema belíssimo e muito complexo que obriga o leitor a repensar a epopeia e a tragédia grega. Sua fantasia e sua linguagem são ricas e variadas e as questões teológicas e morais que levanta têm frustrado todas as tentativas de solução. Apesar do caráter épico e exaltativo, o poema não deixa de ter aspectos melancólicos que ressaltam a sensação de perda do ser humano.

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