domingo, 28 de agosto de 2011

IGREJA ROMANO CRISTÃ

O Imperador Justiniano e o Seu Séquito
e A Imperatriz Teodora e o Seu Séquito,
 respectivamente, c. 547 d.C.
Mosaicos da Igreja de São Vital, Ravena, Itália.
Igreja Romano-Cristã
Depois da renúncia ao "paganismo" por parte do estado imperial romano em 379, foi promulgado o Édito de Tessalónica a 28 de fevereiro de 380, pelo qual todos os súbditos do imperador de Roma se deveriam "reunir na fé transmitida aos Romanos pelo apóstolo Pedro". Com Teodósio (379-385), a Igreja assume-se como único credo oficial do Império e detentora do primado moral. A Igreja, agora numa relação mais estreita com o Estado, lançava-se na sua organização e consolidação territorial. Desde Constantino, todavia, que aquela nova organização monoteísta, legalmente reconhecida, começara a empreender esforços de gestão das comunidades crescentes de cristãos.
A organização da Igreja romano-cristã partiu da cidade, isto é, da fixação de comunidades cristãs em núcleos urbanos, os quais gradualmente passaram a ser a base da organização eclesiástica, pois muitas cidades se tornaram sedes de bispado - daí o termo , do latim sedes, "cadeira", o mesmo que cathedra, de onde deriva o sinónimo de sé, "catedral". Cada bispo torna-se assim, aclamado pelo povo e confirmado pelos seus congéneres de comunidades próximas, líder da sua comunidade, não apenas espiritual mas também, cada vez mais, temporalmente. Mas os esforços de estruturação da Igreja romano-cristã já tinham começado no século III, um século violento e sangrento, sem dúvida, mas intelectualmente notável no Cristianismo e com comunidades cada vez mais ativas e maiores a exigirem enquadramento e organização eclesiástica.
A partir de começos do século III, surgem os concílios provinciais, isto é, reuniões de bispos de uma região com objetivo de defesa da ortodoxia cristã. O primeiro concílio universal, ou ecuménico, reunindo bispos de todo o Império, foi o de Niceia, em 325, convocado pelo imperador Constantino, importante para a organização da Igreja, pois criou os fundamentos da organização das províncias eclesiásticas, metropolitas, lideradas por arcebispos, das quais as mais antigas, como Antioquia, Alexandria, como também Constantinopla, Jerusalém e a própria Roma passarão a patriarcados. O bispo de Roma, patriarca, primaz da nova Cristandade, só receberá o título de papa a partir do século V. Roma, a mais importante metrópole do Ocidente, ganha o título de Sede Apostólica, primaz do Ocidente, já que no Oriente apenas lhe reconheciam supremacia honorífica e não disciplinar ou em termos de doutrina.
A Igreja após Constantino entrou numa era de expansão, conseguindo interditar o paganismo e passando ela própria a perseguir, de certo modo, os pagãos. Igreja e estado confundem-se cada vez mais, com o segundo a tornar-se um braço secular de apoio à primeira, principalmente na repressão e aniquilamento de heresias e de hereges, como sucedeu com o Arianismo, por exemplo. O Cristianismo tendia a tornar-se num fator de coesão e unidade do Império em desagregação, pelo que as divisões no seio da religião oficial, patentes nas lutas entre a ortodoxia e as heresias (heterodoxia), não poderiam ser toleradas pela tutela imperial. O culto cristão tornou-se público, o que fez com que se erigissem novos templos ou se adaptassem anteriores estruturas, como as basílicas, que agora passam a ter um fim religioso e não apenas administrativo ou judicial. Os cristãos passam a ter uma relação com a realidade político-social maior, participando em atos públicos e até integrando o exército. Também a cristianização dos povos "bárbaros" e do Norte de África, onde surgiriam comunidades cristãs ativas e intelectualmente brilhantes (Hippona, Cartago...), reforçou a autoridade e prestígio da Igreja de Roma, enquanto que as comunidades orientais, de matriz grega (o Ocidente era mais latino...) se destacavam mais no plano teológico, no que foram fermento de muitas heresias, em contrapartida (Arianismo, Monofisismo, Nestorianismo, etc...). No Oriente, vários grupos cristãos não gregos, como os povos siríacos, os Arménios ou os Coptas de África, enveredaram, por exemplo, pela condenada heresia monofisita (Cristo apenas tinha uma natureza, a humana, e não duas, a divina e a humana), o que abalou a unidade da Igreja romano-cristã, minada também pela divisão no Império Romano entre o Oriente e o Ocidente, com duas "capitais", Constantinopla e Roma, respetivamente. As rivalidades entre os patriarcados orientais e destes em relação a Constantinopla, a par do viveiro de heresias e da multiplicação de experiências monástico-eremíticas, tornaram a Igreja Romano-Cristã do Oriente muito mais dividida e em afastamento e confronto face ao Ocidente, palco de polémicas entre a erudita Alexandria e a cosmopolita Constantinopla, por exemplo.
Roma, todavia, gozava da sua antiguidade e estatuto imperial, da sua vetusta urbanidade, a Urbe, caput mundi, apesar de empobrecida, insegura e ameaçada constantemente, além de crescentemente anárquica. Graças ao Cristianismo, a queda do império foi adiada, mas não por muito tempo, já que aquela adveio em 476. Todavia, a Igreja Romano-Cristã não desapareceu, consolidou-se e expandiu-se, não apenas na cristianização dos povos germânicos que pulverizaram o antigo império como também através da expansão do monaquismo no Ocidente. O Império do Oriente prosseguiu a sua marcha de vida, mantendo o respeito por Roma e pela tradição. O estatuto dos papas tal fazia perseverar, insuflando autoridade e organização numa cidade, Roma, caída nas garras dos saques e devastações dos germânicos. A organização episcopal, a construção de inúmeras igrejas, o crescimento das antigas dioceses e o aparecimento de inúmeras novas, o fermento espiritual e intelectual mantiveram o prestígio de Roma, mais afastada das querelas e disputas teológicas que varriam o Oriente
A arte paleocristã
Dá-se o nome de arte paleocristã às expressões artísticas dos primeiros cristãos que decorreram entre o ano 200 e o século VI, correspondendo ao período de expansão do cristianismo, primeiro na clandestinidade e depois, já em liberdade. Essas manifestações artísticas abrangeram uma vasta área geográfica (do Próximo Oriente assírio ao Ocidente europeu) e possuíram grande diversidade regional. Apesar disso, ostentam alguns traços estruturais comuns, como: o uso dos modelos estilísticos da Roma clássica; a assimilação de novos processos técnicos, formais e estéticos oriundos do Oriente; e a subordinação ao espírito e às temáticas do cristianismo.
Na arquitectura, o principal esforço centrou-se na procura de uma tipologia para o templo cristão que pretendia ser, simultaneamente morada de Deus, recinto de culto e local de reunião da comunidade dos fiéis, o que impôs novas exigências construtivas.
As primeiras igrejas construídas obedeceram a dois modelos:
- O de planta centrada, de influência helenística e oriental, com formas circulares, octogonais ou em cruz grega, e coberturas em cúpula e meias cúpulas;
- E o de planta basilical (inspirado nas basílicas romanas), em cruz latina, com três ou cinco naves separadas por arcadas e/ou colunatas e cobertas por tectos em madeira,
Esta ultima foi o modelo mais característico, que se tornou dominante após o século V no Ocidente, influenciando decisivamente toda a evolução artística seguinte, até ao Românico. Baptistérios e mausoléus adoptaram preferencialmente a planta centrada e com cúpulas sobre a sala central. Exteriormente pobres, as primitivas igrejas cristãs animavam-se internamente graças à decoração pictórica, a fresco ou em mosaicos, de belas e vivas cores e sentido pastoral.

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