Comércio Triangular é uma expressão utilizada para designar um conjunto de relações comerciais dirigidas por países europeus entre as metrópoles e os vários domínios ultramarinos, de carácter transcontinental apoiado em três vértices geopolíticos e económicos: Europa, África e América (Norte, Centro e Sul), com relações secundárias com a Ásia e os seus produtos.
De facto, o vértice europeu deste imenso conjunto de cadeias de trocas comerciais assenta nas principais potências navais e políticas do Velho Continente: Holanda, Inglaterra, França, Espanha e Portugal (estes últimos em fase de declínio, mas sem nunca perderem as suas posições coloniais e assegurarem alguns circuitos de produção e distribuição de produtos-chave na economia mundial, como escravos, ouro, prata, diamantes, açúcar e tabaco).
“ Os Homens eram empilhados no fundo do porão do navio, acorrentados, com receio de que se revoltassem e matassem todos os brancos que iam a bordo. Às mulheres reservavam a segunda entrecoberta. As crianças eram amontoadas na primeira entrecoberta. Se quisessem dormir caíam uns sobre os outros.
Havia sentinas, mas como muitos tinham medo de perder o lugar, faziam aí mesmo as necessidades, principalmente os homens, de modo que o calor e o cheiro eram insuportáveis.
Pior do que tudo era o sofrimento dos cativos, de tal forma que muitos não resistiam, morrendo asfixiados, exaustos ou doentes.”
Fonte: Frédéric Mauro, Portugal, o Brasil e o Atlântico
In, História e Geografia de Portugal-6ºano
Texto Editores
Da Europa partiam embarcações carregadas de produtos manufacturados, como armas de fogo, rum, tecidos de algodão asiático, jóias de pouco valor, entre outros artigos de menor valor comercial. O destino principal era África, onde se trocavam escravos por estes produtos. Os compradores de escravos comerciavam com europeus ou africanos que vendiam os seus conterrâneos, quer no litoral quer no interior, onde quase só se aventuravam os negreiros autóctones. Muitas vezes eram colonos americanos a comprar directamente em África a sua mão-de-obra servil, sem intermediários europeus. Os escravos africanos eram, de facto, a mola principal desta rede comercial de capital importância para a economia europeia, pelos lucros que rendiam aos países negreiros, e também para o sistema de produção das colónias mineiras e de plantação das Américas, seu destino além-Atlântico.
Nesta segunda junção de vértices do comércio triangular (África-Américas), muitos dos escravos morriam a bordo dos navios, onde se amontoavam em condições infra-humanas. Chegados às Américas, eram vendidos aos donos de minas e de plantações em troca dos seus produtos: açúcar, tabaco, moedas de ouro e prata (ou em barra, e até mesmo em forma de letras de crédito de praças financeiras como Londres, Bordéus, Nantes, Antuérpia...). Completava-se o triângulo comercial com a compra por parte da Europa desses produtos americanos, embora para o continente americano se exportassem directamente as manufacturas e se fizessem reexportações de artigos adquiridos na Ásia. Só as colónias europeias nas Índias Ocidentais e as famílias possuidoras de minas, plantações ou empresas comerciais tinham poder económico para adquirir essas manufacturas do Velho Mundo, pagando com os rendimentos que lhes davam as suas produções ou negócios, mesmo com os elevados gastos que comportava a compra de mão-de-obra africana.
Sem comentários:
Enviar um comentário